QUARTO ATO: NÁUSEAS

Além daquela vontade terrível de urinar
foi acordada pela súbita vontade de vomitar.
Correu para o banheiro e antes que alcançasse a privada,
despejou no chão aquele suco gástrico azedo e fétido.
Ele, só de ouvir, ficou mais nauseabundo que ela.
O ar tornara-se rarefeito,
Um fedor impregnou o minúsculo apartamento.
Ela se esvaia a cada golfada.
Ele ficava mais repugnado.
Vomitou sonoramente até não lhe sair mais nada do estômago.
Sentiu que as contrações estomacais haviam acabado.
Instintivamente passou a mão no ventre,
Suspirou como se tivesse sufocada, buscou ar.
Não se sentiu satisfeita com o ar que lhe chegou.
Foi até a área de serviço, pegou alguns produtos de limpeza.
Limpou muitas vezes o banheiro.
Por fim resolveu lavá-lo com sabão em pó.
Gostava do cheiro do sabão em pó,
era lhe melhor que o cheiro desagradável do pinho engarrafado.
Transpirava muito.
Tomou um banho morno.
A água do chuveiro se misturava com a de seus olhos.
Chorou em silêncio por mais de 30 minutos.
Secou-se com a toalha branca.
Vestiu uma calcinha e foi para o quarto,
tropeçou na entrada.
No quarto reinava absoluto o breu.
Deitou-se.
Ao seu lado ouviu a respiração calma de quem dormia.
Tentou dormir,
mas, suas vísceras pareciam inchadas.
A respiração era difícil.
Recostou-se na cabeceira e pôs mais uma almofada nas costas.
Ficou nessa posição até adormecer.

Este é o Quarto  Ato do Conto minimanista:
"A vida a dois em atos", escrito em 1980.
Leiam também:
Primeiro Ato: O AMOR
Segundo Ato: O MEDO 
Terceiro Ato: A DOR

seguirão: 
Quinto Ato: O DESPERTAR
Sexto Ato: A CONTRAÇÃO
Sétimo Ato: A DESCONTRAÇÃO

Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 29/05/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T506120
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