O Costureiro

Adamastor Rosado, era um costureiro de mão vazia, quase um estilista, porque desenhava mais do que costurava. Tinha um atelier no fundo do quintal da sua residência, que por coincidência ou não também era rosada, quintal esse que em algumas ocasiões recebia uma galera zen, para umas festinhas nada convencionais, porém com muita adrenalina, com direito a tomar banho no tanquinho.

Ele, Rosado, como era conhecido no mundo da moda, tinha entre as suas manequins de vitrine, a favorita, a caliente Leila Batista Novais, uma mulher quase perfeita se não fosse as estrias, celulites localizadas e algumas rugas devido a idade. Contudo sua pele era de um bronzeamento a base de bronzeador de beterraba de saquinho, que ela adquiria na beira mar. Sua trajetória amadora se deu após ter participado de um desfile de um brechó filantrópico, sem direito a cachê, apenas o direito de escolher duas pecinhas básica da coleção. Depois desse desfile, Rosado a convidou para trabalhar com ele, ela sem opção aceitou.

O trabalho que Rosado desenvolvia estava voltado para sua comunidade e periferia, fazendo moda benevolente para os carentes, dessa forma ele conseguia alimentar o tanque de seu carro, sua única patativa, conhecida como a bela adormecida, pois dificilmente saía da garagem. Rosado não era casado, tinha uma vida voltado para o celibato, frequentava a igreja, ficava horas conversando com os religiosos e orando com os missionários, mas não chegava a ser comparado a um beato Salu.

Ele acreditava que um dia a moda tornasse um programa de governo estilo Fome-Zero, nesse caso seria Moda sem Fome, assim ele investia nas suas coleções que nunca estavam completas, pela falta da chita e do algodão sintético. Mas, ele não desistia, porque tinha o apoio dos seus amigos que andavam na Moda, sem estar na moda é claro, porque Moda era uma grande magazine popular por onde seus amigos circulavam, atrás das promoções relâmpago de que tivesse direito a troca, e quando comprava mas de uma peça ainda exigia um desconto.

O tempo passou, e Rosado Recebeu um convite para trabalhar na Bolívia, país que tem uma indústria têxtil bem desenvolvida, ele não chegou a pensar, hoje estar operando um tear, tecendo seu sonho de se torna uma verdadeira Rosa da alta costura internacional.

Marcos Soares Mariá
Enviado por Marcos Soares Mariá em 19/09/2005
Reeditado em 20/09/2005
Código do texto: T51729