O ANCIÃO E A BORBOLETA


 
Henrique era um ancião que tinha à volta da casa um jardim cheio de flores, agapantos, gladíolos, hortênsias, malmequeres, rosas de todas as cores, enfim uma infinidade de cores que davam alegria e vida aos seus canteiros.
Um dia em que se entretinha na rega dessas mimosas flores, reparou num pequena borboleta, muito colorida, que pairava entre as plantas e passado algum tempo começou a voar mais perto. Já esvoaçava à volta dele, com o seu volteio gracioso e suave. Henrique estendeu-lhe o braço, depois o indicador várias vezes, tentando que ela pousasse no dedo. Após várias tentativas, ela pousou por instantes e alçou voo. Passado algum tempo, voltou a rodeá-lo e quando ele destacou o dedo, ela pousou. Essa cena repetiu-se nos dias seguintes e o ancião sabia que ambos se começavam a habituar um ao outro, tornando-se companhia mútua sempre que ele andava por ali. Ela já não tinha medo dele.
Nunca se integrara bem na sociedade, os vizinhos achavam-no pouco sociável e aquele delicado inseto mudara a sua visão do mundo, até aí restrita ao seu pequeno jardim.
Um dia, o bicho deixou de aparecer. O tempo passou e Henrique começou a sentir a falta dele. Os dias sucederam-se e aquela bela borboleta nunca mais o visitou. Entristeceu e começou a ficar deprimido. O seu jardim como que perdera a cor, virara uma foto a preto e branco. Deixou de regar as flores, que naturalmente murcharam e acabaram por fenecer. Não mais quis sair de casa, perdeu o apetite, deixou de comer e um dia ficou acamado.
Passado pouco tempo os vizinhos, intrigados com a sua ausência, deram com ele morto no leito. Um deles notou então que do lado de fora da janela do modesto quarto estava pousada uma borboleta colorida, que se manteve estática durante algum tempo, depois esvoaçou por momentos junto da vidraça e finalmente se afastou da casa.
Passaram-se algumas semanas e o que fora um belo jardim era agora uma acumular de lixo e ervas. Otávio, o sobrinho de Henrique, único parente e que herdara a casa, viu o estado de abandono da propriedade e antes que o Outono e as chuvas chegassem, contratou um jardineiro para dar um aspeto mais agradável e civilizado aos canteiros.
Na manhã seguinte, entre as muitas folhas, raízes e pétalas de flores que jaziam no chão, já podres, o jardineiro reparou numa pequena borboleta morta, as cores esbatidas em tons de cinzento, que fora arrastada pela vassoura juntamente com os resíduos quando fazia a limpeza do jardim.
 
 
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Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 08/06/2015
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