A ABÓBORA
Nasceu no meio do caminho entre a casa e a escola, num terreno baldio elevado do nível da rua de onde se mostrava por sobre o muro. Era esbelta e redonda com uns sulcos bem desenhados, e a cada olhar, mais alaranjada. Exibia-se.
Naqueles dias roubou-lhe a atenção das aulas e assaltou suas noites. De longe a avistava cada vez mais formosa. Enigmática.
Numa noite arquitetou um plano e decidiu roubá-la. Esperou as luzes apagarem. Sorrateiro saiu do quarto atravessou o corredor tateando a parede, ninguém ouviu o ranger da porta ao sair e ganhar a rua.
Aproximou do local do crime. Na rua cruzou com um senhor de chapéu marrom. Evitou seus olhos para que não o reconhecesse. Antes de consumar o ato cuidou de que ninguém estivesse à espreita. Então saltou o muro. Animal priáprico aprontou as garras, esticou os músculos e calculou a força do bote. Enterrou os dedos naquele fruto gelatinoso e fétido. Era tarde demais, estava podre.