Amarras

Anos e anos se passaram desde aquele dia. Tudo parecia tão indistinto... tão distante... Fora um dia sem grandes alegrias, sem grandes tristezas... Fora um dia de descobertas. Descobrira-se diferente daquilo que sempre imaginara ser. Vira-se coberta de asperezas, de ferrugem, de líquens e outras espécies de capas que sugavam seu interior, amargavam-lhe a existência... Tentara despir imediatamente toda aquela crosta, mas ela era resistente. Tudo o que poderia fazer era tentar removê-la pouco a pouco, num incessante trabalho e esforço diários.

A correção começou a dar mostras. As pessoas que viviam com ela até aquele momento não haviam percebido as sutis mudanças, mas aos poucos notaram e não gostaram. Onde estava a certeza a segurança de tê-la em suas mãos, dominá-la, abafá-la, tê-la como prisioneira de seus egoístas desejos? A guerra estava se armando. Precisava ser muito forte para subverter a ordem dos nós que a prendiam, das amarras endurecidas pelo tempo...