O dia que a Lua caiu do céu

Bruno se levantou naquela terça-feira, tipicamente normal.

Entretanto, logo percebeu que aquele seria um daqueles dias que os noticiários da TV invadem sua casa e manipulam suas ações diárias em prol de uma notícia: a lua havia caído do céu. Nenhuma vitima, aparente e diretamente. Parece que apenas uma pessoa tinha feito imagens do ocorrido, e essas se repetiam a todo instante na tela. Um aspirante a fotografo de um país subdesenvolvido da Ásia, daqueles que vivem em guerra, filmou tudo com sua câmera de baixa qualidade. Nenhum satélite captou o evento, e ninguém previu o mesmo. Apenas aconteceu. Nas imagens, nenhum som, nenhuma tragédia, nenhum grito. Apenas uma coisa redonda e brilhante movendo-se para longe de céu e indo, indo, indo..

Será que a Terra também ia cair, como a Lua? Todos estavam apreensivos. Vasculharam o espaço, e era verdade. A Lua saiu da sua posição e sumiu. Cansou de ver sempre os mesmos planetas dos mesmos ângulos e foi dar um passeio, sem se preocupar com o que os cientistas explicariam, sem se importar com os amantes que fazem juras falsas e verdadeiras de amor eterno, sem pensar nos solitários que se banham de sua luz. A Lua atingira sua puberdade, estava revoltada, cansou da vida familiar e foi em busca de novas aventuras. Já era uma mocinha, e queria agir como tal. Mas foi tão além! Quanta ousadia, quanta audácia de sua parte!

E Bruno, egoísta como todos, pensava: imagine só, meu filho que nem nasceu nunca verá a Lua! Daqui a alguns anos, quem será que vai acreditar que havia uma coisa redonda e brilhosa, que aparecia nos céus todas as noites dando um show com entrada franca pro mundo inteiro? A Lua será um mito, será uma lenda! Será que vão me entrevistar quando eu for velhinho? Eu direi: ‘’eu a via, todas as noites. E ah, uma vez, a luz acabou na vizinhança. Eu era criança ainda. E estava longe de casa, jogando bola com meus amigos. E a lua iluminou nosso caminho, ninguém teve medo do escuro, do falso escuro. ‘’

O dia passou com novos udaptes, mas nada que pudesse intervir no fato de que a Lua caiu do céu. Bruno achou o dia bastante tumultuado e triste. Não chegou a fazer funeral, nem chorar como muitos românticos fizeram. Mas doeu mesmo foi quando a noite caiu. E havia apenas a escuridão. Não, não fez grande diferença, enquanto tomava banho, e estava na cozinha jantando com a irmã. A noite não ficou mais escura, nem mais clara. Noite é sempre noite. E então deitou-se na cama e e foi ver algum filme. E por duas horas esqueceu-se da Lua, e de tudo mais que não fosse relacionado diretamente à ele e a seu presente vazio. Mas antes de dormir, uma coisinha incomodava seu peito, dentro de algum órgão. Saiu para respirar o ar noturno, e por algum feliz acaso, olhou o céu. É mesmo, a Lua havia caído em queda livre do teto do mundo. E a melancolia o invadiu, sem nem saber porque, por onde. E seu sangue ardeu, e o corpo soltou uma resposta: vamos seguir em frente sem a Lua. Não é essencial de verdade.

Bruno nunca esteve tão certo.Noite é sempre noite. Só sabe o que é Lua quem já a teve. Para quem nunca experimentou, não fará diferença. E também, com tanto entretenimento, quem pára para ver a Lua? A Lua já havia caído do céu há tempos, mas foi a primeira vez de Bruno.

LuanaPena
Enviado por LuanaPena em 13/11/2015
Reeditado em 24/11/2015
Código do texto: T5447105
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