No quarto

Na penumbra do quarto, divisou seu perfil. Dormia tranquilamente. Sua respiração profunda era audível e fê-la lembrar-se daquele dia, já longínquo, quando em plena crise de ciúme, discutira acaloradamente com ele.

Ele acabara de sair do banho, toalha enrolada em torno da cintura... Ao vê-lo assim, atraente, a mágoa do dia anterior explodiu. Fora causada apenas por uma palavra de elogio que ele dirigira a uma amiga. Não sabia a razão, mas imaginou que por trás daquela palavra havia um passado. Imaginou intimidades entre eles. Naquele momento, diante dela, indefeso, apenas com aquela toalha na cintura, fizera-a sentir-se mais forte e despejara todo seu tormento sobre ele. Fora ridícula, sabia. Quase o perdera. Ele puxara-a para si, ela o empurrara, mas um beijo acabara com tudo... Lembrava de sua respiração perto da sua, como agora...

Ele estava ali, ao seu lado. Sabia que nunca mais teriam uma discussão assim. Sabia que o destino o fizera refém. Sabia que jamais voltaria a ser o que tinha sido... Chorou.