No escurinho do cinema.

Tu estás, oh! cachopa, ainda a ler o que o miúdo de cá possa escrever-te?... pois..., trata-se também de uma historieta de cinema, por ele próprio vivida, e é também um conto de namorados.

Oh! mouraria e a Virgem de Fátima, me escutem que aqui ainda sou só pranto, como se fora a guitarra num fado.

Não se deu que ao tentar assistir um filme impróprio para menores de quatorze anos, fomos eu e ela, a primeira namorada, adentrando aquela casa de espetáculos, eu aos treze anos e três meses e ela aos treze recém completados.

Ela, aquela moçoila encorpada; eu, cara ainda de menino. Pois pois, pelo porteiro ela passa e eu fico...

E no entra-não-entra que acontecia, éramos os dois observados sorrateiramente por uma senhora mineira, nada discreta. Poeta como às vezes acontece, rezadeira, dessas que na missa diária desfiava a crônica do que se passava a cada dia no cinema, onde só ia depois da visita rápida que fazia aos compadres e comadres, entre os quais constavam, por infortúnio, os meus pais e os pais dela.

Isso valeu-me a perda da primeira namorada, e por sua vez, a ela, um castigo de três meses sem cinema e um ano de colégio interno.

E como assim se deu, aqui contei, sem pretender narrar o motivo da perda de uma outra namorada, para não assanhar os Maupassants e os Bocages, sempre de plantão. rs.

(escrito ao comentar o "À faca ou à bala" de Piti)