Segundas intenções

Timóteo achou uma velha revista, dos tempos em que ainda era moço. Nesse período de aposentadoria, sem ter o que fazer, resolveu montar uma banquinha e vender a tal revista.

- Boa tarde.

- Boa tarde.

- Olhe... Não entendo muito de vendas, mas aconselho o senhor a baixar o preço dessa revista.

- E por quê?

- Bom, acho que ninguém vai comprar essa revista por mil Reais. Ela tem algo de especial?

- Acho que não... Era só uma revista de novelas que minha mãe assistia, muito tempo atrás.

- Então. Acho que ela não vale tudo isso. Vai ser difícil vender.

- Pode ser que tenhas razão... Mas vou ficar com esse preço, mesmo.

- Bom, o senhor quem sabe.

E o jovem foi embora. Com o passar do tempo, Timóteo foi ficando conhecido. Era o "homem da revista de mil Reais". Aquela banquinha de madeira, só com a revista. Todo dia estava lá, com o velho ali sentado, só saindo para comer, tomar banho e dormir. Alguns queriam até ajudar o pobre homem, comprando a revista e terminando com aquele tormento, mas... Mil Reais numa revista? É um roubo!

A banquinha durou mais dezessete anos, enquanto Timóteo esteve vivo. Morreu e não vendeu a revista. Milhares comentaram, tendo visto ou não a banca: "Coitado do velho. Mas todo dia alguém ia lá e aconselhava ele a baixar o preço. Por que será que ele nunca fez isso?". Ninguém sabia, mas Timóteo conseguiu o que queria. Jamais quis ser vendedor, só queria provar a todos ser uma pessoa irredutível.

Sapo
Enviado por Sapo em 08/08/2007
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