A SURPRESA

Maria sempre confiara na dependência de Francisco por ela: amava-a loucamente e mesmo quando ela se zangava e num arrufo terminava com tudo, ele, submisso, voltava qual cão com o rabo entre as pernas, implorando migalhas do seu afeto. Maria sabia prendê-lo, era uma mestra na arte da sedução.

Um dia em que mais uma vez estavam separados, desta vez o capricho já durava três semanas, ela viu-o na rua, de braço dado com uma morena. Reconheceu Anna, sua amiga de infância e que já não via há alguns anos. Resoluta, encaminhou-se para o par com o ar mais inocente do mundo.

-Oh... olá querida! Como tens passado?

Francisco ficou surpreendido, tal qual menino apanhado em falta. A mulher apresentou-o a Maria, somente pelo nome, sem mais pormenores.

Maria tagarelou com a amiga, ignorando-o totalmente, até que reparou na aliança da outra.

- Então és casada?

- Sim, com este homem maravilhoso aqui ao meu lado. E temos duas meninas, de oito e dez anos.

Maria emudeceu, depois deitou um olhar intenso ao par e afastou-se rapidamente sem um única palavra.

Carlos Guerra Nunes
Enviado por Carlos Guerra Nunes em 13/01/2018
Reeditado em 30/01/2018
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