UMA CARTA EXPLICATIVA

14 de agosto de 1994

A você, Odete... que já “ATÉ” foi um grande amor.

NÃO SEI se aquele cara que você conheceu vai bem ou não. Pois não tenho tido contato com ele. Eu acredito que o homem tem várias facetas, sabe? E as facetas emergem de acordo com os estímulos do meio ambiente em que se vive. E por mais criativo que eu seja, nada de bom posso criar se estiver rodeado da raiva, tomado de tristeza, invejando os que não estão tristes. Não posso escrever cantos à liberdade se estiver dentro de uma gaiola.

VOCÊ ESTIMULAVA O PIOR em mim... Odete... Espero que não seja mais assim, com ele. Você me deu o pior… e foi o pior que você teve em retorno por longos quatro anos... sempre o PIOR de minha pessoa. E agora você quer saber como eu ando… haha! Na verdade você quer notícias de um cara que morreu! Junto com você.

EU RECEBO ESTÍMULOS DIFERENTES, HOJE. Aprendi a sorrir (pois recebo sorrisos) e a fazer os outros sorrirem, porque isso me deixa feliz. Aprendi a doar sem cobrar e esperar receber. Amar sem cobrar. Você me pergunta se voltei a escrever... voltei sim e melhor do que nunca. Mas aprendi a falar também. A falar sem medo. Aprendi que minha voz é linda e que o que eu digo IMPORTA.

ENQUANTO VOCÊ enxergava apenas uma pessoa encolhida no sofá... sempre esperando que partisse de você a energia pra que as coisas se movessem. Então... eu vou bem, Odete. Mas, o outro cara, o que morreu de inanição a você: eu não tenho a mínima ideia… Talvez você não precise de uma carta...

Talvez você precise de um médium...