Bandeira Branca, a trégua chegou

E o vento que demorava a soprar, soprou. Com o movimento do ar, aquela nuvem que pairava no ambiente, a poeira dos escombros provenientes de consecutivos combates. Onde não se respirava a plenos pulmões, começavam a sorver o ar, abriu os olhos antes lacrimejantes. As vezes não conseguimos ver as soluções, o horizonte ou sei lá o que queiramos ver, por nos debatermos em demasia. Somos consumidos por ansiedade, angústia e duvidas que nos abalam a confiança, mas é só poeira. O que te sufoca é a tua própria fumaça.

Meu medo passou, e finalmente posso recobrar a lucidez. O que aconteceu outrora foi uma... confusão, causada pela carencia. Como o camaleão que muda de cor e se confunde ao meio, me misturei ao contexto, contexto que não era o meu. Agora já não penso, mentira, ainda penso um pouco,encaro com naturalidade. Ela tem todas as qualidades, o que não a torna sem defeitos, ela é linda, cheia de espinhos, ela é uma flor, não como a rosa, mas do tamanho de um bonsai de raizes cortadas. Apesar do tamanho, não é mulher de se por em prateleiras.

A vida se torna mais interessante quando não se espera nada, o que é impossível para os ansiosos, pois, qualquer coisa se torna grande, por menor que seja. A noite fica com um cheiro diferente, as noites do centro do Rio, têm um odor curioso. Um misto de cerveja, mijo e fumaça de escapamento. O sereno é fresco, traz um cheiro de mato e acende os desejos, um calor aflora a pele, a vontade de ir pra Lapa, tomar uma caipirinha na ladeira. Na noite do Rio se encontram várias tribos, todas harmônicas como os paralelepipedos da rua de tras.

A recordação daquele verão em 2005 ainda se faz presente, talvez o melhor de todos os verões. Caminhadas do Passeio ao Aterro do Flamengo, o cheiro de maresia, os desenhos feitos pelas sombras dos prédios com a lua atrás de si. A lua é parte fundamental nas noites da Lapa. Com sua majestosa luz branco-azulada, as matizes que produz nas nuvens fazem o resto. Sem dúvida existe reciprocidade na relação Lua X Lapa, Lapa X Boemia e Boemio X Lua.

Por alguns minutos me lembrei, penseim comparei... como as coisas pequenas fazem falta. Quanto tempo faz que não tomo um chopp no Juca? O gosto do vinho barato consumido aos montes, cachorro quente na barraca da tatuada, era legal, pois olhavamos sua namorada, gente boa, casal bacana. Preciso do sereno, preciso perder o bonde, me perder nos braços da devassa Lapa, sorver a energia do sereno, para, só então, voltar pra casa, sonhando com a próxima esbornia ao relento....

Símio
Enviado por Símio em 21/10/2007
Reeditado em 22/10/2007
Código do texto: T703760