Quando setembro vier

Encolhida na cama, ela procura um anúncio de sol pela fresta da janela. Pressente que nada virá, pois ouviu grossos pingos de chuva ao longo da noite. Setembro é primavera – matuta lá no fundo – há esperança de florescermos; agradecidas, as flores enfeitarão os jardins, ruas, cidades. Sim, setembro anuncia cores, amores, novidades, é a primavera brotando em nosso jardim interior. Além disso, setembro é o mês do seu aniversário, uma data que ela gosta de festejar com os mais íntimos. Suas divagações são cortadas por um suspiro: estará em casa no seu dia? Pede ardorosamente a Deus que logo possa deixar aquele quarto, o médico passou há dois dias e avisou que está melhorando. Uma notícia que aplaudiu, embora não represente novidade, ela própria sente que desperta, talvez pela confiança que deposita na nova estação, algo que lhe traz à mente brincadeiras de criança, perfumes de chácara, alegria! Agora, só espera que setembro floresça sem pudores e que ela possa respirar aliviada, junto da família que a aguarda.

– Bom dia, moça!

O médico sorri, examina-a, declara:

– Vou lhe dar alta, você teve uma boa recuperação nos últimos dias.

– A primavera vai chegar, doutor! Espero que tudo floresça, inclusive eu.

Quando ele fecha a porta, ela levanta as mãos para os céus e trata de avisar a família de que está deixando o hospital. Bendita primavera!

(Tarefa proposta em encontro literário – utilização de dez frases, sugeridas pelos participantes, contendo a palavra “setembro”)