O Prêmio - BVIW

Maria não acreditou, quando seu copo de joaninhas foi ao chão e se desfez em cacos. Não era um copo valioso de cristal, mas tinha várias joaninhas coloridas, e o mais importante: era uma lembrança de Tereza, a cozinheira baiana que trabalhara em sua casa, na Bahia, quando sua família se mudou para Mataripe, cidade no entorno da Refinaria Landulfo Alves, para onde seu pai havia sido transferido. Foi lá que Maria foi à escola pela primeira vez, aos sete anos, e em dois meses lia e escrevia tudo, achando-se apta, então, para alfabetizar Tereza que mal escrevia seu nome, mas que lhe ensinara a língua do P (Ah! Teperepezapá...). Na escola recebeu vários prêmios por suas ótimas notas, mas nada se comparou ao presente que recebeu de Tereza, quando ela finalmente aprendeu a ler e escrever: aquele copo de joaninhas. Ele veio em uma bonita caixa xadrez, com uma fita cor de rosa longa, para que a pudesse usar nos cabelos. Junto, Tereza entregou a Maria um bilhete escrito por ela mesma, que dizia: “Obrigada, minha querida professorinha! Você me abriu uma porta para o mundo”. Ao recordar este fato, Maria chorou, como chorara de emoção naquele dia.

Pouco depois, Tereza se casou, e Maria voltou para o Rio com a família, já que o pai fora novamente transferido, mas guardou muito bem o copo de joaninhas, a fita e o bilhete, agora quase apagado, na mesma caixa. Anos se passaram, e nunca mais soube de Tereza. De mudança para seu novo apê, pois estava de casamento marcado, foi empacotar alguns guardados e, estouvadamente, deixou o copo cair, porém, dentre os cacos, viu um maiorzinho, com duas joaninhas no centro. Lixou bem suas bordas, e colocou-o na caixinha. Era uma recordação importante e boa demais pra se perder totalmente no lixo.

Ouvindo Biagio Antonacci-coccinella

https://youtu.be/12j7IwwYM2s

*Não resisti, e resgatei a poesia abaixo.

do baú:

COCCINELLA (Joaninha)

Joaninha voou do jardim,

Como se anunciasse a primavera...

Com ela, veio um perfume de jasmim

Que se entranhou em mim,

E a fez pousar em minha mão,

Onde dançou uma dança de paquera...

Senti suave sensação,

Pois pressenti sua intenção

De trazer-me teu beijo molhado,

Justo quando em ti eu pensava,

Com desejo enorme e lascivo,

Meu coração cativo de ti, meu amado...

A tarde já anoitecia...

Dos meus olhos, uma lágrima caiu,

Traindo a enorme emoção que eu sentia...

Joaninha voou de novo e partiu,

Levando consigo minha doce ilusão...

Bailando em minha mente, deixou esta poesia.

Meu coração, em desencanto ruiu,

Pressentindo que tocavas, naquele instante, nossa canção...

23/09/2019