Meu encontro com Raul Seixas 

     Após longa caminhada, provações e reminiscências, obtive permissão para encontrá-lo. A princípio não o reconheci, quase cem anos separavam nossos destinos. Uma balada chamou-me a atenção, a letra, em certo trecho, dizia: “Há paz no cais celestial / Vem, velho rapaz / Vem cantar um novo blues”. 
     “Vem cantar um novo blues...”. Aquele canto em tom de convite me encheu de luz, não, na verdade jamais se houvera apagado, pois vive há 10164 anos: encantou Moisés na travessia do Mar Vermelho; fez Maomé cair na terra, de joelhos... Recriou a essência da vida em minha alma de poeta menor. 
     Pedi-lhe um autógrafo. Se bem me lembro, ganhei sete: Vinícius, Tom, Gonzaguinha, Elis, Cazuza, Renato Russo e Ayrton Senna, que estacionara seu fórmula, quando viu os amigos na mesa do bar “Anjos Eternos”. Indaguei-lhe por que não me concederia o autógrafo. Sua resposta continha já a sua assinatura: “Se hoje sou estrela, amanhã já se apagou”. 
     Desse encontro não me esqueço e nunca me esquecerei, afinal, os mitos, metades paradoxais de gênio e louco, não se repetem, ainda que sobrevivam na eternidade de nossas sensações.

Nel de Moraes
Agosto de 2087 

Para a amiga e escritora: Naza Breeman