A bonitinha

Olhar no espelho era uma inconformação!

- Como você é bonitinha! - diziam, matando-a por dentro.

Sorria e respondia mentalmente, com vontade de trucidar o incauto:

- Bonitinho é feio arrumado, bonitinho é filhote de macaco, bonitinho é perto de feio, bonitinho é negócio que se diz a pulso...bonitinha! Só bonitinha, não linda! Por que não linda?

E ela que tanto se achava fatal, que tanto se achava diva, tinha o infeliz espelho para lhe dizer (provavelmente com a mesma voz do espelho mágico da madrasta da Branca de Neve), que ela era dona de uma beleza vulgar, absolutamente comum; que por muito que se arrumasse não chamava atenção de todos, só de alguns; que se conformasse em não ser um desastre ecológico; nesta ordem.

Mas, o diabo é que não era linda, nem inteligente, nem fatal...era só bonitinha, um rosto para se esquecer na multidão.

Dai criou para si uma imagem, que amava tanto, que desejava tanto para si, que acabava esquecendo que as imagens são hologramas, intocáveis, intangíveis, impalpáveis.

Começaram a rebentar espinhas na cara toda quando a solidão da diva bonitinha começou.