Pedaços de uma Vida

PEDAÇOS DE UMA VIDA

Movida pelos caminhos da vida, que me levaram a estradas desconhecidas, a passagens escuras e tenebrosas, me joguei em um mundo frio e calculista, onde tudo tem um preço e os juros são os remorsos.

Tornei-me produto dos sonhos alheios, me programei para fazer pessoas felizes, especialmente a minha família, que depositou todas as esperanças em mim, uma criança frustada que virou mulher antes do tempo.

Nunca me importei com os meus sentimentos, sempre preferi ver o outro feliz, ignorando as minhas vontades e a liberdade de escolher e me expressar.

Anulada por uma vida marcada pela separação de meus pais, por amores frustados, por paixões não correspondidas e por sonhos quebrados, vivo hoje a mentira da felicidade.

Escondo a minha ingenuidade e insegurança atrás de meus decotes ousados e de meu batom vermelho. Sou uma farsa e me escondo do verdadeiro eu. Revelar esse lado é mostrar o meu rosto limpo, sem maquilagem, e aí, eu me sinto feia, inútil e sem qualidade.

Tento buscar nos elogios das pessoas que me amam força para continuar acreditando em mim. Só que às vezes, eu desisto e me escondo em quatro paredes de tijolos. Sinto até vontade de ir para bem longe e começar tudo de novo, desde o início, que utopia! Não se pode apagar o passado, reconstruir o presente pronto e fugir do que ainda nem se sabe.

Sempre procuro no homem o ser compreensivo, carinhoso e companheiro. O lado carnal é importante, mas não preenche. E parece que é só o que eu consigo dos meus relacionamentos.

Eles nunca confiam em mim, sempre me julgam e me condenam, mesmo antes de me acusar. Sou uma vítima sem defesa. Transformei-me em nada, mesmo fazendo tudo para ser alguém.

A compreensão é algo que não espero. Acho que nem eu sei ao certo o que sou e o que quero. Vivo buscando, correndo e caindo. Eu sou uma vida em pedaços, pedaços que nunca poderão ser juntados, porque estão distantes, e alguns já se perderam para sempre.

A felicidade verdadeira e completa eu não sei se vou conhecer, mas se um dia a conquistar eu a abraçarei como a minha primeira e última boneca.

A primeira boneca de uma menina pobre sempre é de pano, quando não de plástico, mas a minha foi de ouro, porque eu a esperei muito e a amei como ninguém me amou, sempre a protegi de tudo e nunca deixei ninguém sujar a sua história. Ela viveu o tempo que tinha que viver e realizou todos os seus desejos e morreu quando eu completei 7 anos de idade. De lá pra cá eu só vivo chorando e sofrendo pela morte da minha boneca, que levou consigo a minha história, a minha vida e os sonhos de uma criança normal.

SHIRLEY CASTILHO
Enviado por SHIRLEY CASTILHO em 09/01/2006
Reeditado em 05/12/2006
Código do texto: T96384