Enamorados...

ENAMORADOS...

CAPÍTULO I

Lívia se encantou ao saber que havia sido sorteada para passar um final de semana com seu ídolo, um cantor de músicas pop. Iniciaria na sexta-feira e acabaria no domingo à noite.

Era tudo o que sonhara! Era até difícil de acreditar... Faltavam apenas algumas horas para iniciar o sonho, as malas com poucas roupas, pois ganharia um “guarda-roupa” novo, um computador de última geração, um celular do mesmo naipe, jóias, uma caderneta de poupança e além de tudo isso, ficaria pertinho de Saulo, isso por isso já bastaria.

Um belo jovem, de linda voz e de uma personalidade (ao menos artisticamente) carismática, e pelo que sabia, solteiro. De cor negra, traços perfeitos e másculos, um corpo parecido com estátuas gregas, perfeito... Olhos azul-esverdeados, que pareciam penetrar a alma e a voz que fazia i coração bater mais forte e o corpo desejar mais.

_ E aí Livy? O que vai fazer ao ver Saulo? Pular em seu pescoço ou algo pior? – encrenca o irmão Igor, de 28 anos.

_ Vou dizer a ele, que tenho um irmão que é louco por ele! – replica ela sorrindo.

_ Engraçadinha! – pausa – Mas, o que irá fazer?

_ Bem, não sei. Só sei que primeiro iremos tomar o café da manhã e só lá saberei o nosso itinerário.

_ Cuidado maninha! Não deixe ele se aproveitar de você! Famoso, ele deve ter muitas que se derreteriam, que se venderiam por ele! Posso lhe dar um conselho?

_ Claro né mano! Qual seria?

_ Não deixe ele te beijar e por mais que você queira! Não deixe!

_ Por que isso?

_ Pois, é justamente isso que ele estará esperando de você! E você fará justamente ao contrário! Mesmo que depois você me acerte a mão, mas não faça! Seja você!

_ É verdade! As outras talvez me chamariam de tola, mas, gostaria de poder ter mais do que ele vai querer me dar, então, nem o menos de mim ele terá! Caso queira é claro!

CAPÍTULO II

Saulo acorda um pouco mal humorado! Ter que passar um final de semana com alguém que não conhecia e que parecia ser chata que só, além do que, poderia até ser desagradável... Mas, agora, só restava esperar!

Lívia não podia acreditar, as malas já estavam no porta-malas do jipe que a levaria até Saulo, o coração batia descompassado, finalmente encontraria seu sonho de amor.

Saulo vê quando o jipe estaciona em frente ao hotel, e se prepara para receber a mais feliz das fãs, pensa ele com ironia.

Livy desce do carro e lentamente se volta para ele, que a esperava no alto da escadaria do hotel de luxo, a sorte é que não havia jornalistas (o que ambos pediram para se evitado). A vontade dela era fazer ao contrário de tudo o que o irmão dissera para não fazer.

Saulo observa a moça, seus pensamentos não lhe fizeram justiça. Ela tinha uma beleza ímpar, tinha um quê especial e diferente das outras, não sabia dizer o que era. Então, de repente, ele se viu cara a cara com ela e sentiu um desejo enorme de beijá-la ao ver o brilho de seus olhos e o sorriso que vinha da alma em seus lindos lábios.

_ Bom dia Saulo! É incrível conhecer você!

_ O mesmo digo a seu respeito! Posso? – pergunta ele abrindo os braços para poder abraçá-la.

_ Deve! – Livy se aconchega nos braços fortes e deseja nunca mais sair dali.

_ Vamos casalzinho? Está na hora do café da manhã... – fala Luca, empresário e irmão adotivo de Saulo – O dia será agitado!

_ Tem razão Luca! Vamos donzela, é hora de começar o seu, o nosso fim de semana especial! – fala ele segurando-lhe a mão.

_ Sim senhor general! O senhor quem manda! – retruca soltando uma suave gargalhada que mexe com os corações masculinos ali presentes.

Após se lavar em sua suíte, dez minutos depois, ela se encontra com seu ídolo, já à porta da suíte a esperá-la.

Já no restaurante do Hotel Memory, eles conversavam sobre si mesmos...

_ O que você faz Livy? Posso chamá-la assim?

_ Claro! Estou cursando o terceiro semestre de Psicologia. E acho fascinante poder observar e entender um pouco de cada ser humano! São detalhes que nos passam despercebidos, mas, quando você entende um pouco mais, começam a se encaixar!

_ Como, por exemplo? – pergunta ele olhando-a nos olhos.

_ Você! Mas, aí, não tem tanto do curso, mais de mim mesma, pois, possuo um dom especial de entender um pouco da alma das pessoas! – diz baixinho quase num sussurro.

_ Eu?

_ Por exemplo,... Você vem de uma família numerosa, é o que mais ajuda, ainda mais devido ao sucesso que faz, é sonhador... Lutou por seus ideais e conseguiu; agora se sente sozinho, cansado e ao mesmo tempo querendo mais do que anda recebendo; se sente tenso, nervoso... O que acreditava, talvez não acredite mais...

_ Chega, por favor! – ele pede sorrindo e ao mesmo tempo sentindo-se invadido.

_ Me desculpe! É que acompanho sua vida há um tempo e venho analisando você! E me empolguei demais!

_ Não é isso! É que tive medo de descobrir mais de mim mesmo! Pois, acertou em tudo o que disse até agora! – fala ele tomando-lhe a mão e beijando-lhe de leve os dedos.

_ Bem pessoal, está na hora de cumprir a parte do banho de loja com nossa donzela encantada. – diz Luca, chegando naquele momento.

_ É verdade Luca! E quanto a você donzela, não Leve nada, apenas disposição para andar e me ter ao seu lado! – diz fazendo charme.

_ Ah não Luca! Vou ter que suportar esse bebê chorão durante todo o fim de semana? – diz dramática levantando-se da cadeira – Poupe-me!

Ela então se aproxima de Luca e o abraça pela cintura.

_ Ah Sal, encontramos alguém que não liga para você! Apenas para mim!

_ Claro Luca! Porque andar com ele é só para atrair olhares e nunca ficaremos em paz! Você não é diferente! Terei você só para mim! – diz olhando nos olhos de Luca, sem perceber o que causava ao rapaz e no ciúme que despertou em Saulo – termina ela saindo de braços dados com Luca, deixando Saulo para trás estupefato.

_ Assim é que se fala anjo! – Luca lhe dá um beijo no rosto e solta uma gargalhada sonora, escondendo uma certa inquietude.

_ Isso, riam de mim! Joguem-me na parede! – Saulo fala ligeiramente ofendido, pois sabia que o que ela falara era a mais pura verdade.

Passaram a manha toda fazendo compras para ela, entrando e saindo de lojas, das mais variadas. Ao pararem para almoçar, novamente suaves gargalhadas puderam ser ouvidas no restaurante.

_ Que horas sairemos Luca? – pergunta Saulo enxugando o canto dos olhos, do tanto que rira de Lívia. A moça era por demais espirituosa e agradavelmente engraçada.

_ Bem, o jatinho parte daqui ás vinte horas, e vocês chegam em Santa Catarina mais ou menos à meia noite.

_ E você vai conosco? – pergunta ela a Luca, meio que ansiosa, pois ele era sua âncora.

_ É donzela, acho que vai ficar sem seu Romeu e se contentar com o sapo! – fala Saulo beijando-lhe os cabelos.

_ Oh não! O que será de mim? – diz ela abraçando Luca.

_ Não se preocupe meu anjo! É só assobiar que sempre estarei por perto para te proteger! – diz ele rindo, mas, em seu coração sabia que isto era a mais pura verdade.

Após tantas compras e de tanto andar, Lívia e Saulo foram descansar em suas suítes. Lívia encosta-se à porta fecha e solta um suspiro e com o rosto entre as mãos, fala baixinho:

_ Será que tudo é verdade? Será que não é apenas um sonho? – e ela vai tomar um banho relaxante.

Mais tarde, dormia, quando batem à porta da suíte. Ela se levanta para atender, meio que desnorteada. Vestia uma camiseta vermelha, até a altura dos joelhos, os cabelos negros e encaracolados, presos em um coque no alto da cabeça, deixavam soltos alguns cachinhos que se desprenderam durante o sono e não percebe o quanto estava provocante daquele modo.

_ Oh desculpe-me Lívia... Pensei que já estivesse pronta! – fala Saulo olhando-a de cima a baixo. Os olhos negros brilhavam, a pele possuía um tom rosado e os cachos desprendiam-se do coque – Você está linda! – sussurra ele tomando entre os dedos um dos cachos rebeldes.

_ Eu... Eu estou atrasada? – pergunta meio atordoada, afastando-se para não cair em seus braços.

_ Não, é que eu ia convidá-la para tomarmos uma taça de vinho antes de embarcarmos...

_ Que horas são?

_ Apenas dezessete horas! Você aceita?

_ Claro meu lorde! Vou me trocar e preparar minha bagagem e em meia hora encontro com você no saguão... Pode ser?

_ Ok, mas, poderia deixar seus cabelos seus cabelos assim? – pergunta passando o polegar de leve por seus lábios macios.

Ela nada responde, fechando a porta atrás de si.

_ Oh meu Deus, desse jeito como vou resistir?!

Rapidamente ela se arruma, deixa tudo preparado para partirem e desce no horário combinado.

Vestida em um vestido longo florido, de tecido leve, de salto alto e uma maquiagem suave, ela se encontra com seu amor de sonhos!

_ Você está radiante! – diz ele encantado.

_ Bondade sua! – fala ela sentando-se e aceitando a taça de vinho – O que fará após esse fatídico fim de semana? – ri suavemente.

_ Bem, se eu sobreviver... – diz aderindo à brincadeira – Terei uma turnê pela Europa e só voltarei ao Brasil nos próximos meses. Sentirá minha falta?

_ Mandará postais de todos os lugares que passar? – responde com outra pergunta, tomando um gole de vinho.

_ Claro! Afinal, agora que somos amigos não?

_ Com certeza! Porém, tudo depende de você! – fala ela olhando-o nos olhos.

De repente, ele se aproxima para beijá-la, sendo interrompido por Luca, que chega e entre aliviado e angustiado, fala:

_ Vamos povo adorado? E você meu bombom, está pronta, pois deslumbrante você está! – diz ele beijando-lhe a face.

_ Claro meu amor! – sorri ela entre feliz e insatisfeita.

_ Então me esperem no saguão do hotel, pois providenciarei para que peguem as bagagens.

_ Ok! Vamos Lívia? – fala Saulo tomando-a pelos braços, abraçando-a logo após.

Lívia se deixa abraçar e se aconchega ainda mais no abraço, aproveitando-se desse momento único. Já no avião, estava tão cansada e nervosa, que nem percebeu o momento em que adormeceu.

Saulo observa-lhe a face serena, os lábios entreabertos num ressonar suave e sente um irresistível desejo de acordá-la com um beijo.

Lívia sonhava e em seu sonho sente seus lábios beijados por Saulo, ela entreabre os seus para receber os dele. O beijo se intensifica, de repente, ela acorda meio que assustada com seu próprio suspiro e ao abrir os olhos, vê o rosto amado junto ao seu, beijando-lhe com suavidade e ternura.

Ela não sabia o que fazer... Continuar ou afastar-se... Então se lembra de seu irmão e se afasta abruptamente.

_ Acho que não devemos misturar as coisas! – diz num sussurro – Peço que me perdoe pelo beijo, estava adormecida e nem percebi o que acontecia!

_ A culpa é minha, você dormia e sua boca pedia um beijo, que ousei roubar... Porém, não me arrependo e caso queira outro, é só falar sim, que eu entenderei! – e novamente deposita-lhe um beijo em seus lábios.

Com o coração acelerado, ela nem percebe quando pousam em Santa Catarina.

CAPÍTULO III

Lívia acorda horas depois com o canto dos pássaros. Eles estavam na fazenda de Saulo; o sol morno tocava-lhe o rosto despertando-a de um sono sem sonhos. Ela senta na cama e abraça suas pernas e relembra do beijo trocado no aeroporto.

_ Ao menos poderei recordar... E que eu tenha forças para não dizer o sim! – decidida, ela joga as cobertas para o lado e corre para o banheiro, onde toma um banho quente.

Depois de arrumar a cama com cuidado, observa o quanto o quarto é lindo! Mobiliado com móveis antigos de madeira, as cortinas românticas em tom salmão, a enorme cama de casal, com colchão de mola; o banheiro um sonho, havia até uma antiga banheira que a convidava para aproveitá-la.

_ Ainda vou me aproveitar de você minha amiga! – ri ela conversando com a banheira.

Vestida com roupas quentes e confortáveis, porém, elegantes, ela vai ao encontro de Saulo, que estava na varanda, onde a mesa de café já estava posta com um delicioso e variado café da manhã. Ele lia o jornal tranqüilamente.

_ Bom dia... – quase diz amor, mas, cala-se a tempo.

_ Bom dia doçura! – levanta-se e a beija na face – Dormiu bem?

_ Melhor impossível! De quem é esse pedaço do paraíso? – pergunta servindo-se.

_ Meu! Minha primeira grande aquisição, com meu sucesso! Poucos conhecem, pois aqui é meu refúgio! É aonde virei morar quando me aposentar! – pausa – Gostou?

_ Amei! Lindo demais!

_ Ótimo! – ri ele – Tome logo seu café que hoje iremos cavalgar e fazer um piquenique. Aliás, sabe cavalgar?

_ Eu? Uma moça da cidade de concreto? O máximo que cheguei perto de um cavalo foi quando os via trotando na rua! – diz fingindo desespero.

_ Mais hoje, terá sua primeira experiência real com a equitação! – ri ele.

Nos primeiros momentos da manhã, Saulo se ocupou em ensiná-la a montar, depois das aulas básicas, foram cavalgar, a trote lento. Quando começou a se acostumar, ela finalmente, começa a sentir prazer no passeio e a apreciar a paisagem belíssima à sua frente.

Algum tempo depois de terem cavalgado em silêncio ele propõem:

_ Vamos parar perto desse riacho?

_ Claro!

Saulo apeia do cavalo e vem ajudá-la.

_ Pode me soltar! – sussurra ela olhando-o nos lábios.

_ Que tal um sim? – responde com uma pergunta, feita em um sussurro.

_ Não posso! – fala deitando a cabeça em seu peito forte.

_ Oh Livy... Por favor, diga sim! – insiste ele estreitando-a mais em seu abraço, sem colocá-la no chão.

_ Por favor! Não me peça, ainda não me sinto pronta!

Ele a solta lentamente, sem antes esconder o rosto nos cachos sedosos e soltos dos belos cabelos negros. Meio relutante, ela também se afasta e leva a égua Doçura pra beber água no riacho.

Já acomodados por sobre a relva verde, tomando um delicioso refresco de laranja, ele pergunta:

_ Tem namorado? Noivo ou algo assim?

_ Eu não tenho ninguém!

_ E por que não?

_ Não achei a pessoa certa! – diz olhando-o nos olhos – E você?

_ O que acha?

_ Uma só não! Várias! – diz ela escondendo um tom de tristeza.

_ É assim que me vê?

_ E eu estou errada? – pergunta ela colocando um pedaço de morango em seus lábios.

_ Pior que não! – sussurra ele terminando de mastigar o morango – Mas, também não achei a pessoa certa. E nem sei onde encontrá-la... Poderia me dizer?

_ Vamos caminhar um pouco? – pergunta ela desconversando.

De mãos dadas, conversam amenidades enquanto caminham.

_ Como é sua família?

_ Ah, não é uma família grande! Tenho um irmão mais velho que eu, moramos com nossos pais, em uma casa confortável e de um tamanho bom. Temos uma vida comum. Com altos e baixos, porém, somos unidos, nos amamos e nos respeitamos muito!

_ Seu pai paga a faculdade?

_ Oh não! Estudo na universidade federal.

Abraçados, ficaram de pé observando os raios de sol que se refletiam sobre as águas do riacho.

_ Vamos minha senhorita?

De volta a casa e a seu quarto, Livy enche a banheira e prepara para um banho relaxante, pois, os músculos todos lhe doíam. O jantar seria servido às vinte horas e para vestir, havia separado um vestido prata diáfano, até a altura dos joelhos; a saia acariciava suas pernas ao menor movimento, para completar o traje, uma sandália da mesma cor, porém, de salto alto.

Depois de quase meia hora dentro da água morna e perfumada, ela se enxuga e veste a combinação cor da pele, faz uma maquiagem em tons prata, veste-se e passa seu perfume predileto. Os longos cabelos se prendiam em um coque frouxo com alguns cachos soltos.

Ao abrir a porta para sair do quarto, dá de cara com Saulo do outro lado.

_ Oi?!

_ Oi!? – responde ela.

_ Eu... Eu... Vim acompanhá-la! – gagueja ele observando-a impressionado com sua beleza.

A casa estava na penumbra, na sala de estar, a lareira estava acesa iluminando e aquecendo o ambiente de forma acolhedora.

_ Que lindo! – sussurra ela sem olhá-lo nos olhos.

_ Pensei em jantarmos aqui, o que acha?

_ Perfeito! – diz olhando a mesa baixa no centro da sala, já posta, só esperando por eles.

Seu vinho predileto os aguardava. Ela se senta no sofá para desabotoar a sandália, porém, não pôde terminar, pois ele segura suas mãos impedindo-a e levantando-lhe pela mão. Uma música ecoava suave e tomando-a nos braços começam a dançar pela sala.

_ O que farei depois deste fim de semana Saulo? – pergunta ela com os lábios em seu pescoço.

_ Diga sim! – sussurra ele.

_ Sim, oh sim! – sussurra ela levantando o rosto para receber o beijo que tanto sonhara.

O beijo é longo e carinhoso. Logo após, ele a senta no sofá e retira-lhe a sandália, acariciando-a nas pernas.

_ Saulo, por favor! – fala roucamente.

E um novo beijo se faz presente. Durante todo o jantar conversaram sobre os mais variados assuntos e se acariciavam com os olhos. Já passava da meia noite, quando ele a deixa à porta do quarto.

_ Boa noite minha senhorita!

_ Boa... – e não termina, pois um beijo sensacional a faz calar-se e o resto deixa de existir.

Pouco depois ela entra e encosta-se a porta com os olhos fechados, ao abri-los, porém, solta uma sonora gargalhada... Sobre a cama, um enorme cachorro de pelúcia com um cartão dizia:

“Que tal? Sou uma boa companhia?”

Ela abre a porta para ir agradecer-lhe e o vê sorrindo esperando por ela do lado de fora.

_ Gos... – desta vez, ele nem teve tempo de falar, pois ela se lança ao seu pescoço e o beija com ternura – Puxa, acho que terei que tomar um banho gelado! – diz ofegante – Isso quer dizer que gostou? – ri ele após o beijo.

_ O que acha? – replica ela entrando no quarto sorrindo e fechando a porta atrás de si.

De repente, uma voz penetra-lhe a mente, ouve-se o som de um violão ao fundo e uma voz divina a cantar... Livy abre os olhos e ao olhar no relógio, vê que ainda são três e meia da manhã.

Então percebe que estava ganhando uma serenata...

_ Uma serenata para mim!

Ao abrir a porta da varanda de seu quarto, é banhada com uma chuva de pétalas de roas e saudada com seu amor cantando seus músicas românticas para ela. Mesmo após tudo terminar, ela ainda podia ouvir a voz amada a cantar para ela.

_ Bom dia minha senhorita! Hoje vamos nadar, pescar e já são quase onze horas da manhã! – fala Saulo entrando no quarto com uma bandeja repleta de guloseimas deliciosas, a qual colocou na cama para abrir as cortinas.

_ Como você é malvado! – diz ela se espreguiçando – Posso ao menos lavar o rosto? – e sem esperar a resposta corre para o banheiro – Pronto, agora posso começar o dia! O que estava dizendo?

_ Nadar, pescar... – não termina porque a recosta no travesseiro e a beija com intensidade.

A bandeja é esquecida por um momento e tudo o que importava agora, era aquele momento cheio de carinho e ternura.

_ O que farei amanhã Livy? O que farei?

Sem responder, ela o abraça e o beija com muito carinho, pois sabia que para ele poderia ser apenas empolgação.

_ Você já tomou café? – pergunta se afastando e mudando de assunto.

_ Não, vim tomar especialmente com você! – responde sorrindo enigmaticamente.

_ O que o senhorito está aprontando? – pergunta ela erguendo a xícara emborcada no pires.

Ao abaixar os olhos, vê uma linda caixinha de veludo champanhe; ao abri-la, encontra um lindo anel de esmeraldas pequeninas, formando um S e uma aliança com a mesma pedra, com o nome dela gravado com as pequenas pedras verdes.

_ Para você não esquecer de mim! – fala ele colocando os dois no dedo anular da moça – Se troque, temos muito que fazer hoje! Ah, e vista um biquíni! Hoje o tempo está agradavelmente quente!

Estupefata, ela o vê sair e fica a olhar as jóias.

_ O que farei sem você Saulo? – sussurra enxugando uma lágrima que teimava em cair.

Passaram o dia fora, nadaram no riacho, tomaram banho de sol, fizeram piquenique e namoraram muito. Ao voltar, Livy encontra o caminho de casa forrado de pétalas de rosas. Olhando para ele sem nada entender, o ouve dizer:

_ Vá, continue...

A casa estava repleta de flores e balões em forma de corações e no centro um enorme buquê de flores do campo... Ao pegá-lo, encontra outra caixa de veludo, só que dessa vez de cor preta. Ao abri-la, encontra um chaveiro com seu nome e o dele, e, no chaveiro, a chave de um carro.

_ O que é isso? – sussurra baixinho.

_ É o seu carro novo, o novo fusca, que a espera em Brasília!

_ Não pos... – antes que terminasse ele a beija.

_ Vá se arrumar. Temos que ir!

Ele então fica a olhá-la e apenas continua:

_ Tenho que viajar ainda hoje para a Europa.

_ Oh não! – sussurra ela saindo correndo para o quarto.

Ele a segue e a pega nos braços, carregando-a até a cama.

_ Não vou esquecê-la! Escreverei, ligarei ou darei um jeito de manter contato com você!

_ Por favor! Não me prometa nada! Beije-me apenas!

Após o beijo ela se afasta e se tranca no banheiro onde deixa as lágrimas correrem livres.

Estavam pousando em Brasília, quando ele fala:

_ Você fica e eu continuo viagem. Luca estará esperando por você para levá-la ao hotel.

_ Saulo...

_ Sim, minha linda senhorita, diga...

_ Foi bom tê-lo conhecido! Tenha uma boa viagem! – fala ela beijando-lhe a face.

Soltando-se do cinto, pega sua maleta e desce do avião, sem lançar para trás um olhar sequer.

_ Lívia... – sussurra ele vendo-a se afastar.

CAPÍTULO IV

No salão de desembarque, Luca a esperava.

_ O que houve pequena? – pergunta abraçando-a.

_ Nada! Vou para casa agora?

_ Não, amanhã pela manhã! Ou quer ir agora?

_ Não!

_ Você poderia ficar comigo hoje na minha suíte?

_ Claro!

Já no hotel...

_ Pronto madame, estamos acomodados!

_ Vou trocar de roupa!

_ Quer algo para comer? Eu estou faminto!

_ Só um suco!

Momentos depois, sentados na cama, ela começa:

_ Luca, se eu lhe fizer algumas perguntas você responderá?

_ Depende! – diz com a voz tensa por causa do carinho que ela fazia em suas mãos.

_ Esses anéis, o carro, a serenata, o bicho de pelúcia, a chuva de pétalas de rosas... Seria para qualquer outra que tivesse em meu lugar? – o coração aperta.

_ Não! Ele me deixou quase louco para arrumar tudo isso! E olha, em cima da hora! E para fazer chegar até vocês no tempo certo? – ele a olha com intensidade e fala com o coração apertado – Não, não estava nada no concurso! Foi você pequena, você mexeu com ele!

_ E o que farei agora? – pergunta ela abraçando-o e chorando.

_ Não sei meu anjo! Não sei mesmo!

Na manhã seguinte, ao chegar em casa, em seu carro novo, sua mãe a esperava querendo saber de tudo.

_ Ué meu bem, um carro também? Entre e conte-me o que aconteceu durante esses dias mágicos!

Ao abrir a porta de seu quarto, viu o seu novo computador e todos os acessórios, uma linda caixa embrulhada ricamente, já sabia ser seu celular e um cheque no valor de cem mil reais.

Depois de contar tudo a sua mãe, deitou em seu colo e chorou tal qual uma criança.

_ Calma meu bem! Tudo tem seu tempo! As aulas começaram e a vida segue!

Lívia volta às aulas, a vida ia se normalizando, menos seu coração. Porém, quase duas semanas depois, era madrugada e seu celular toca. Assustada, ela atende:

_ Alô?

E do outro lado Saulo começa a lhe cantar uma linda música, a música que comporá para ela e cantara na serenata. E quando ele termina:

_ Saulo! Meu amor! Que saudades! Onde está?

_ Longe, muito longe meu amor! Mas, morrendo de saudades! – diz ele cheio de emoção – Como viver sem você minha doce Livy?

_ Saulo...

_ Vou ter que entrar no palco agora, não se esqueça de mim!

_ Saulo?! Eu te amo! – sussurra ela com o rosto banhado em lágrimas.

Era sábado, Lívia ainda dormia aconchegada ao seu enorme cachorro de pelúcia, quando a campainha toca. Estava só, pois seus pais e irmão viajaram para Minas Gerais. Ao olhar no relógio da cabeceira, vê que ainda não era nem sete horas da manhã! Tenta voltar a dormir, porém, insistiam com a campainha.

_ Que saco! – diz baixinho se levantando – O que...

Ela não pode terminar a frase, pois é sufocada por beijos intensos e ardorosos.

_ Saulo, o quê...

_ Sim! Tenho que ir embora às vinte horas, tenho um pouco mais de doze horas cão seu lado! Será que posso?

_ E depois?

_ Depois embarco para Paris! Posso passar essas horas com você?

_ Ah meu amor! – sussurra ela beijando-o.

Passaram o dia ilhados do mundo. Tomaram café da manhã, conversaram, brincaram e não falaram sobre o futuro! Ele não deixou que ela o levasse ao aeroporto.

_ Não me esqueça minha doce Livy! Quando eu embarcar, uma surpresa você terá!

Ele a beija e entra no táxi que o levaria até o aeroporto.

Uma hora depois, tocam a campainha, um mensageiro lhe entregava uma linda caixa de veludo verde musgo. Depois de fechar a porta, ela abre a caixa e encontra uma linda gargantilha com um singelo e belo coração de rubi. E vê um cartãozinho: “Sou seu!”

E assim passou-se um mês, até que certo dia, Luca chega em pessoa, tinha um sorriso meio triste quando lhe pergunta:

_ Você confia em minha pequena?

_ Claro Luca!

_ Ainda ama Saulo?

_ Mais do que nunca! Mas, o que aconteceu? Ele está bem? – pergunta preocupada.

_ Certo! Então vista sua roupa mais bonita, espero você aqui embaixo.

Quando ela sobe para se trocar, a mãe dela que tudo ouvira vem falar com ele:

_ Tem certeza disso tudo rapaz? – ela já sabia o que estava para acontecer.

_ Tenho! Eu a amo, mas, sei do amor que eles têm um pelo outro! Não vou atrapalhar! Mas, não ficarei mais tão perto! – responde ele enxugando uma lágrima.

Pouco depois, Lívia entra no carro com Luca, que lhe venda os olhos.

_ Mas, para que...

_ Você disse confiar em mim!

_ Confio!

Quando ela pensou que não mais chegaria, o carro parou. Luca a ajuda a descer e lhe retira a venda. Estavam em uma chácara e bem à sua frente, uma capela.

Luca a conduz até o centro da capela, e, só então ela vê Saulo, todo garboso esperando-a.

_ Mas Luca, o que...

Nesse momento ele a entrega a Saulo com o coração doido e fala:

_ Só diga sim! – e se afasta.

Ele não consegue assistir a cerimônia e sai dali deixando que as lágrimas que invadiam seu coração, fossem liberadas.

Meia hora depois, Saulo e Lívia estavam casados religiosamente. A aliança brilhava em seus dedos.

_ Eu te amo Lívia! – diz ele entrando com ela no colo na suíte do hotel, onde ficaram hospedados no concurso.

Na manhã seguinte, ao acordar encontra a esposa observando a paisagem pela sacada. Ele então fica a lhe admirar com carinho e paixão.

Lívia sente os olhos se encherem de lágrimas e se assusta ao ser abraçada.

_ O que houve meu amor? – pergunta ele beijando-lhe o pescoço – Está arrependida? Não está feliz?

_ Não estou arrependida e estou feliz! Porém, o que será de nós? Como será nossa vida? – pausa – Você está longe há meses e ainda vai ficar outro tanto... E eu? Não posso ir com você, não temos uma casa e nem conversamos direito ainda! Será que realmente me ama?

_ Calma prenda minha! É claro que amo você! Sei que você a faculdade e está quase se formando. Sei que ocupados como estaremos esses meses que se seguirão, mal veremos o tempo passar, e todas às vezes que eu puder, venho voando para ficar com você! – pausa – Quanto a casa, já temos uma. Eu tinha esta casa há tempos, já passei para seu nome, pois este será meu primeiro presente de casamento. Amanhã mesmo iremos até lá e levarei você e minha nova família para conhecer a nossa casa. E você terá carta branca para fazer qualquer modificação que ache necessário nela. Quando acabar a turnê, nos casaremos no civil e faremos uma festa tal qual você merece! Quero te ver feliz amada, pois você é tudo o que eu sempre sonhei!

O beijo surge suave e vai se intensificando à medida que a paixão vai sendo acesa nos corações.

Na manhã seguinte, eles vão a casa dos pais de Lívia e de lá vão para a casa nova casa da filha.

A casa era belíssima! Térrea, com grades altas sobre o muro de pedras escuras, na frente, um lindo jardim que estava totalmente florido com as mais variadas espécies de rosas e flores. As paredes pintadas em tom azul bebê, com detalhes brancos e dourados, o chão coberto com pedras de granito escuro, o que dava um realce ao tom da parede; tinha seis quartos, sendo três deles com suíte, três salas, dois banheiros independentes, uma cozinha moderna, bem equipada e arejada, dispensa, dependência de empregada, e ainda, um quintal grande com uma churrasqueira coberta.

_ Nossa Saulo! Que casa maravilhosa! – dizem os sogros.

_ Quem teve todo esse bom gosto? – pergunta a esposa abraçada a ele.

_ Bem, eu planejei tudo nos mínimos detalhes! – responde ele acanhado.

_ E você ainda teria coragem de me deixar fazer mudanças aqui? Nesse paraíso?

_ Claro amor, afinal, a casa é sua! É onde irá morar...

_ Não seria melhor dizer nossa? – pergunta ela beijando-lhe a face.

Dona lídia observa os dois e sente um arrepio a percorrer-lhe a espinha, e quando isso lhe acontecia, algo nada bom estaria por acontecer.

_ É sim minha prenda! A nossa casa! – se retrata – A casa de nossa nova família!

_ Eu não mexerei em nada aqui! Está perfeito! Só trarei para cá as minhas coisas e alguns objetos de decoração que eu achar bonito, está bem?

_ Claro amor!

Saulo ainda ficou com a amada mais uma semana e viveram em intensa lua-de-mel. No dia de voltar ao trabalho, ele a aperta nos braços e fala em tom de voz que denunciava uma profunda emoção, como que prevendo algo no futuro:

_ Não esqueça prenda minha... Você é o meu amor, minha vida... Nada e ninguém me farão deixar de amá-la! Vou sentir sua falta, porém, ligarei todos os dias! Não sei viver mais sem você!

E assim passaram-se os dias, no primeiro mês de casados, ela mobiliava a casa com detalhes seus e preparava a monografia na faculdade. Como andava muito atarefada, mal tinha tempo de perceber a si mesma, e a saudade que tinha do marido, doía demais! Mesmo que se falassem todos os dias. No segundo mês, a saudade piorava, mais ainda se falavam, a monografia tomando agora todo seu tempo e juízo. Já estava morando em sua casa, seu irmão vinha ficar com ela durante a noite, ou a mãe e até mesmo Luca, sempre que estava na cidade, vinha se hospedar na casa dela, este, por sinal, sempre ligava para ela, estava sempre a resolver algum assunto entre ela e Saulo, abertura de conta corrente, detalhes jurídicos... Mas, o amor que sentia por ela, por mais que só aumentasse, ficava guardado no fundo do coração. A única pessoa que sabia era dona Lídia, que sempre estava pronta para ouvi-lo.

Assim, no quarto mês, tudo foi ficando diferente, ela anda passando muito mal, sentindo enjôos pela manhã, mas não contara a ninguém e nem percebera o que poderia ser. Sentia-se meio que inchada. Mas, deveria ser o fato da má alimentação, do sumiço do esposo que não ligara mais há quinze dias, o sumiço de Luca e a defesa da monografia que se aproximava.

Estava na casa dos pais, conversava sobre isso com o irmão, quando ouvem na televisão:

“Boa noite! O cantor brasileiro, Saulo Marques, em turnê pela Europa, encontra-se desaparecido há duas semanas! O desaparecimento foi descoberto, devido aos restos do jatinho particular que foi encontrado no aeroporto principal da cidade onde estava. O cantor estava voltando ao Brasil, quando uma tempestade repentina os ‘pega’. Ao perguntarmos para ele, no dia da viagem, o porque da pressa de voltar ao Brasil, ele nos respondera que estava a voltar para os braços do amor, de sua amada esposa. Esposa que ninguém sabe ainda quem seja. O acidente foi confirmado hoje... Vejam agora, com exclusividade, a entrevista que Luca Marques nos deu esta tarde...”

_ Saulo voltava para o Brasil, para sua nova vida! Porém, uma tempestade os atingiu antes que sequer saíssem do destino de origem. Um raio atingiu uma das asas do avião, que perdendo o controle caiu. As equipes de busca foram acionadas rapidamente, porém, encontraram o piloto, mas, o corpo de Saulo e do co-piloto, não foram encontrados. – e olhando diretamente para a câmara, ele fala para Lívia – Minha doçura, eu... eu sinto tanto! – e sem condições de falar, ele entra no saguão do hotel onde estava.

Quando dão por si, a família de Lívia, a encontra desmaiada no chão. O irmão mais do que depressa a leva para o hospital.

Horas depois, a mãe escuta o médico dizer:

_ Bem, devido ao grande trauma pelo qual passou, é um milagre que não tenha tido ao menos um princípio de aborto nesse começo de gravidez...

_ Aborto? – pergunta a família espantada.

_ Sim! Vocês não sabiam?

_ Não e nem ela! – fala a mãe com a voz trêmula.

CAPÍTULO V

Lívia ia abrindo os olhos com certa dificuldade, até que consegue abri-los completamente e estranha onde estava.

_ Oh meu Senhor! Meu marido! – diz num sussurro tomado de dor, lembrando-se de tudo.

Então, sem conseguir segurar a dor, começa a chorar silenciosamente. Os olhos fechados pelo peso da dor que vinha de sua alma.

De repente, ela sente alguém fazendo um carinho em seu rosto, tenta abrir os olhos e não consegue.

_ Não se esforce, só sinta e escute! – fala a voz suavemente macia e que trazia uma paz e um conforto a sua alma – Não fique assim, tudo tem seu propósito... O amor que sentiam nunca vai se apagar, principalmente pelo fruto que ficou! Cuide desta criança que você carrega em seu ventre, ela é a bênção que você precisa para seguir em frente. Será uma linda menininha, que nascerá e lhe trará muitas felicidades, pois você terá ainda muitas alegrias na vida! Creia!

No momento em que a voz se cala, a porta se abre e sua família entra...

_ Até que em fim acordou dorminhoca! – fala o irmão indo abraçá-la.

_ Estou aqui desde quando? – pergunta ainda sem muita força na voz.

_ Tem uns quatro dias! – responde o pai – Olha o que eu trouxe para você!

_ Que coisa mais linda papai!

De dentro de uma caixa dourada de tamanho mediano, saia um balão em forma de coração e dentro dele, havia uma delicada boneca de porcelana.

_ É para minha princesa!

_ Então papai terá que escolher quais das princesas!

_ Como assim? – pergunta a mãe sem entender nada.

_ Você é papai serão avós de uma linda garotinha, que darei o nome de Larissa!

_ Como você sabe? – pergunta o irmão.

E ela conta o que acabara de lhe acontecer. Houve minutos de silêncio emocionado, a mãe é quem o quebra...

_ É verdade! Luca nos ligou ontem! Acharam o corpo de Saulo e do co-piloto. Ele está trazendo o corpo do irmão adotivo para cá. – pausa – Ah, há três dias chegou esta carta lá em casa, não sabia se mostrava agora para você, mas, seu pai achou que eu deveria entregá-la. – ela então entrega o envelope a filha e leva o marido e o filho para fora do quarto, deixando-a em total privacidade.

Emocionada, Lívia observa o envelope, que estava com o endereço do último hotel em que o marido hospedara e com carinho, passa o dedo por sobre a caligrafia tão amada, para só então lentamente, abrir o envelope...

“Paris, 15 de Janeiro de 2002,

Olá prenda minha!

A saudade aperta o coração e o corpo! Não vejo a hora de estar ao seu lado! Você deve estar imaginando porque não liguei mais e já deve estar magoada! Porém, fiz de propósito!

Queria que sentisse tanto a minha falta, que o ar lhe faltasse e o coração apertasse, pois é assim que estou! É o que sinto longe de você!

Amada minha, nunca imaginei ou sonhei em amar e ser amado deste modo! Pensava que não teria essa bênção em minha vida... Encontrar um amor como o nosso, tão puro e verdadeiro! Onde sentimos o que o outro sente, quando sabemos que o outro está a precisar do outro e de como!

Ah meu amor! Quanto tempo esperei te encontrar e nem sabia disso! Quanto tempo sonhei em ouvir sua voz, ver o brilho dos seus olhos, sentir o toque de suas mãos e eu não sabia que você estava guardada para mim! Se hoje eu fosse embora desse mundo, eu iria feliz, pois sei que te levaria em meu coração e sei que você seria muito feliz, pois um anjo como você, Deus não deixaria sofrer!

Tenho tanto para falar, mas, as palavras fogem e eu fico a esperar que meus gestos falem mais do que elas. Espero que ao receber esta carta, você escute o bater na porta...”

Nesse momento, realmente batem à porta do quarto. O coração falha uma batida e ela volta a ler a carta...

“... ao vê-la se abrir, verá que entra por ela o grande amor de sua vida!

Para sempre e todo seu:

Saulo”.

Quando termina de ler a carta, vê a porta se abrir, espera então que por ela entre seu amor, que tudo não tenha sido um pesadelo. O coração bate descompassado, os olhos marejados pelas lágrimas e a respiração suspensa para ver quem adentraria naquele momento.

_ Oi meu anjo! – diz Luca entrando no quarto – Estarei sempre com você, nunca te abandonarei.

Meio que paralisada Lívia se deixa aconchegar naqueles braços fortes e amigos... Ele era sua âncora naquele mar de dor e solidão.

Ela o olha com atenção e fala num sussurro emocionada:

_ Só comigo não! – pausa – Com a Larissa também!

_ Larissa? Quem é Larissa? – pergunta ele curioso sentando-se na beirada da cama.

_ É a nossa filha! – fala pegando-lhe a mão e colocando-a sobre o ventre, que agora ela notara que estava mais proeminente o que antes nem percebera.

_ Nossa filha?? – o pobre coração falha uma batida, mesmo sendo isso irracional.

_ É! Minha filha e de Saulo! E é claro agora sua também, pois você será um dos padrinhos! – sorri ela com tristeza, sem reparar na forte emoção de Luca.

Neste momento o irmão de Lívia entra no quarto e vê aquela cena, ele encosta a porta novamente e vai falar com a mãe.

_ Mamãe! Eu fui ao quarto de Lívia e encontrei o Luca lá, só que eles não me viram! – pausa pensativa – Mamãe, ele gosta dela?

_ Sim meu filho! Ele é apaixonado por ela desde o começo e nunca falou nada com ela e nem tentou atrapalhar nada! – pausa – Tinha que ver no dia do casamento deles, o quanto ele sofreu! Mas, foi até o fim, tamanho era o amor pelo irmão e por sua irmã!

_ Mamãe, será que...

_ Já pensei nisso! Vamos dar tempo ao tempo! – diz ela sabiamente.

O corpo de Saulo foi velado apenas por amigos mais íntimos e familiares. E foi aí, que ela conheceu os cunhados e os sogros.

_ É triste nos conhecermos assim! – diz a mãe de Saulo – Mas, é uma honra conhecer aquela a quem meu filho amou tanto e que lhe deu tanta alegria! – pausa para o abraço sincero e emocionado – Seja bem-vinda à nossa família!

_ Obrigada! – pausa – Sei que em meio a tanta tristeza, tenho uma novidade boa...

E acariciando a barriga, ela se apóia em Luca que não a deixa sozinha um instante sequer e fala:

_ A senhora será vovó de uma linda garotinha, a Larissa! – fala olhando a sogra nos olhos.

_ Oh meu Deus! – sussurra a sogra emocionada – Obrigada pela notícia minha filha! – e um novo abraço se faz presente – Depois de tudo isso, peça a Luca que a leve lá em casa, pois esse menino anda meio sumido de nós, tem cuidado de assuntos muito importantes! – fala dona Sarah, olhando para dona Lídia com olhar cúmplice, pois ambas já haviam conversado muito ao telefone, depois da notícia da tragédia e antes de Luca chegar com o corpo.

_ Pode deixar mãe! Vou levá-la até em casa assim que possível! – diz ele abraçando a mãe adotiva.

CAPÍTULO VI

Os meses voam, Lívia voltara a ficar em casa. Readministra a casa toda. Um dos quartos com suíte ficara para hóspedes, outro para si e o outro para a filha. Os outros quartos ficaram para escritório, quarto de brinquedos e mais uma para hóspedes.

Seu irmão sempre que podia vinha dormir com ela, porém, na maioria das vezes era Luca. Pois, ele, a mãe e a sogra, estavam tentando aproximar os dois. Só vinham dormir com ela, quando precisava ou quando Luca viajava.

Este diminuira os números de viagens, mudara a sua rotina só para acompanhar Lívia e a gravidez.

Ela falava quase toda semana com a sogra. Eles moravam em uma enorme fazenda dada por Saulo. Os bens de Saulo foram repartidos entre ela e os pais. Ela ficara com a maior parte. Com isso, pode ajudar os pais e irmão. Que receberam carros e um apartamento. Uma das posses que agora tinha, era a fazendo de Santa Catarina. Luca a ajudava administrar os bens adquiridos e os direitos autorais sobre todos os produtos e músicas de Luca.

A vida continuava, seu ritmo agora tentando se normalizar diante da realidade que agora tinha que ser vivida. A monografia já havia sido apresentada e ela tira nota com louvor. Não quisera participar da festa de formatura, mas, após a colação de grau, fizeram para ela uma surpresa, ao mesmo tempo em que realizaram o chá de bebê. Ela se divertiu até, dançara muito com Luca, aliás, somente com ele.

Sempre iam juntos as consultas de pré-natal. Muitos pensavam que ele era o esposo e pai da criança, pois a preocupação, o interesse e o amor que ele tinha por elas, eram genuínos! E, aliás, outros tanto torciam para que percebessem o carinho que os unia.

Chegou então o grande dia, o nascimento de Larissa! Lívia dormia tranqüilamente, Luca no quarto ao lado, quando este acorda com a voz amada ao seu lado:

_ Luca, a bolsa rompeu! – fala ela calmamente.

_ Oh meu Deus! Meu bebê vai nascer! – diz pulando da cama e ela começa a rir.

_ Calma meu anjo! Estamos bem! – pausa – Mas vamos logo! Já liguei para a médica ela está nos esperando!

Durante o trajeto para a maternidade, ela liga para os pais e depois para os sogros.

_ Pronto, já avisei a todos!

_ Como consegue ficar tão calma minha doçura? – pergunta passando as mãos pelos cabelos.

_ Sei que nada nos acontecerá!

Finalmente se escuta o choro e minutos depois a enfermeira traz uma linda menina enrolada em uma manta lilás. Se podia ver os cabelos quase ruivos e espetadinhos de tão lisinhos, parecia muito com Luca, que tinha cabelos no mesmo tom, a pele moreno jambo, olhos amendoados, um pouco mais baixo que Saulo, mais ainda sim alto, corpo na medida certa e traços bonitos; diria que tinha um pouco do biótipo de Igor, irmão de Lívia, de quem a bebê parecera puxar as características.

_ Aqui está papai! – diz a enfermeira entregando-lhe a criança – Sua linda filhinha, sabia e de uma boa garganta!

_ Como é linda! – diz ele segurando a menina nos braços – Lívia já a viu?

_ Sim! Por isso ela está calma agora, pois já esteve em contato com a mãe. Lívia chama vocês no quarto! – diz a enfermeira indo.

Luca, nem lembra de deixar a mãe de Lívia segurar a neta, tamanho a maravilha que sentia em tê-la nos braços, como se fosse sua realmente.

Lídia então realmente percebe que os dois foram feitos um para o outro. Mas, Lívia ainda não se dera conta. Sofria ainda com a morte do marido. Mas, o tempo tudo pode curar.

Luca fora registrar a criança, e agora com resguardo de Lívia, acabara por se mudar para lá. Enquanto a mãe dela ficava durante o dia e ele tinha que trabalhar, ficava durante à noite, pois ela, lídia e Sarah, combinaram tudo, pois queriam que eles ficassem o máximo de tempo juntos envolvidos por Larissa.

O tempo passa, e certo dia, Luca preparara o jantar, estavam servidos e Larissa sentada na cadeirinha, brincava com a colher, quando ela pergunta, algo que nunca perguntara, pois, quase se esquecera que Luca era adotado, pois o amor que ele tinha pela família adotiva e a família por ele era maravilhoso!

_ E sua família de sangue Luca?

_ Bem, minha família é de São Paulo, minha mãe morreu quando eu estava com apenas dez anos, meu pai não conheci e nem sei se está vivo. Creio não ter irmãos. Eu um dia estava na rua pedindo comida, quando mamãe me viu e me levou para casa. Contei sobre minha mãe, ela foi atrás de algum parente próximo e eles aceitaram que ela me adotasse! O que agradeço, pois, foi um anjo em minha vida! Todos eles me aceitaram e eu sempre pude ser eu mesmo! Sempre tive as mesmas oportunidades que eles, nunca fui discriminado por ninguém, ao contrário, sempre tratado em igualdade! E até brigávamos! – ri ele lembrando das brigas de infância – Os amo demais e sei do amor deles por mim!

_ Que coisa linda de se ouvir! Por isso você é tão especial! – fala acariciando-lhe o rosto.

_ Sou mesmo Lívia? – pergunta olhando-a nos olhos.

_ Com certeza! – fala beijando-lhe a palma da mão que estava tocando seu rosto.

_ Quanto tempo estamos juntos Lívia? Morando sob o mesmo teto? Partilhando as nossas vidas, nossas tristezas, alegrias, frustrações e até já brigamos! – sorri ele acariciando seu pulso.

_ Pouco mais de dois anos, pois desde a morte de Saulo, você está sempre ao meu lado! Larissa já está com dois anos e meio!

_ Isso!

Então olham para a menina que nesse momento não agüentava mais e sonolenta tomba a cabecinha para o lado. Luca se levanta, pega a criança e vai limpá-la e vestir a camisola de ursinho.

A criança chamava Luca de pai. E se pareciam muito! O mesmo tom dos olhos e dos cabelos, o mesmo tom de pele.

_ Ela te ama e para ela você é o pai dela! – fala ela ao lado dele, observando a filha adormecida em seu berço.

_ Eu sei! E é o mesmo amor que tenho por ela. – pausa – O que nunca entendi, foi porque você nunca corrigiu quando ela me chamava de pai.

_ Porque não há pai melhor para ela. Você está sempre presente, me ajuda a educar, me ajuda quando preciso de algo para ela... – pausa – Só não sei se é isso que você quer! Pois você tem sua vida, e sinto estar roubando-a para nós duas.

_ Você não rouba nada de minha vida! Pois estou onde sempre quis estar! – sussurra ele olhando-a nos olhos – E você, quer que eu esteja em sua vida? Não apenas na vida da Larissa, mais especialmente na sua?

Lívia sai do quarto da filha, deixando acesa somente a luz do abajur e só então se volta para ele...

_ O que você acha?

_ Não sei o que acho! Sei o que quero há um longo tempo! E eu quero e amo você Lívia! Desde o primeiro dia em que vi você!

E o primeiro beijo vem arrasador. De repente, estavam no quarto dela, em sua cama, onde tantas e tantas vezes ele ficara ao lado dela sem sequer tocá-la. Com Larissa dormindo entre eles.

O mundo para e Lívia se entrega àquela paixão. Deixa-se amar e se faz amor para aquele homem maravilhoso. Horas depois, nos braços dele, totalmente relaxada ela fala:

_ E agora, o que acontecerá Luca?

_ Quero casar com você! Quero viver como marido e mulher, estar ao seu lado sempre e criar junto com você nossos filhos!

Ela se levanta ainda nua e vai até a janela.

_ O que foi meu amor? – pergunta ele abraçando-a por trás.

_ Saulo!

_ Você ainda o ama? Não quer casar comigo por causa dele?

_ Ainda o amo sim! E sempre vou amar, ele fez parte da minha vida, assim como fez e fará sempre da sua! Ele estará sempre entre nós, principalmente por causa da Larissa. Mas, o que sinto por você é diferente! É mais real maduro e forte! Na verdade, creio que sempre passei mais tempo com você do que com meu próprio marido! Você sempre esteve presente em minha vida! Sempre foi meu amparo, minha segurança! Sempre amei estar ao seu lado! Com você eu falava de tudo! Você me conhece todos os detalhes de minha vida!

Ele a vira para si e com a ponta dos dedos começa a desenhar o contorno de seu rosto, descendo pelo pescoço, alcançando-lhe os seios...

_ Isso é um sim, que irá se casar comigo? – fala trazendo-a para mais perto.

_ Se continuar me abraçando assim, como vou falar algo? – sussurra ela domada de paixão.

Dois meses depois eles casam, fizeram uma linda festa. A vida nem sempre era fácil, mais sabiam compartilhar idéias e momentos e se fortaleciam. Lívia, três anos após o casamento, engravidara de gêmeos e Larissa era a mais feliz das crianças. Tinha pais que a amavam muito e agora um casal de irmãozinhos que acabara de nascer.

Enamorados, Luca e Lívia, viviam a dádiva que a vida oferecia sempre com respeito e paixão.