Você tem um bigodinho?

Recém ingressado no serviço público, um rapaz, ainda neófito na arte do amor, interessou-se por uma colega de trabalho.

Ele era muito tímido e não sabia como conquistá-la. Durante semanas, limitou-se a acompanhá-la com os olhos e aos poucos foi encontrando algumas maneiras de se aproximar dela.

Às vezes se oferecia para ajudá-la, outras vezes perguntava as horas para ela, e logo se deu conta que tinha liberdade para ficar perto da moça. Assim, onde ela estava, quase sempre, como um papagaio de pirata, lá ele também estava.

A notícia correu e toda a repartição tomou conhecimento da paixão dele pela moça, inclusive ela. Para os mais íntimos, a moça deixava claro que só queria a amizade dele, entretanto ninguém tinha coragem de comunicá-lo.

O tempo foi passando e a paixão aumentando, até que chegou o dia em que ele resolveu se declarar para ela!

A oportunidade surgiu quando a moça foi para o canto da sala e se encostou na janela para acompanhar o movimento dos carros na rua.

Daí a pouco, o rapaz se aproximou, colocando-se bem ao lado dela, numa proximidade nunca antes vista.

De rabo de olho, toda a repartição acompanhava a cena e dava para perceber o desconforto do rapaz em iniciar aquela conversa séria.

Por mais de um minuto, ele também ficou olhando apenas para a rua.

De repente, ele olhou diretamente para ela, examinando-a, e, em seguida puxou assunto, perguntando: "você tem um bigodinho?" A moça deu uma olhada para a sala e viu que ninguém tinha ouvido aquela pergunta, e, baixinho, confidenciou: "um pouquinho", virando as costas e saindo logo em seguida.

No rosto do rapaz não se via decepção com o encerramento brusco da conversa. Certamente, ele não compreendeu que aquelas palavras acabaram de vez com qualquer chance que ele tivesse com a moça.

No dia seguinte, era visível no rosto da moça que ela havia providenciado a remoção do bigodinho.

Enquanto isso, o rapaz se preparava para novas investidas.