O NONO MANDAMENTO (Excerto II*)

(...) Ela acordou lentamente, tinha dormido tão bem que nem chegara a sonhar. Apenas via Pedro sentado aos pés da cama com um bloco de papel e uma caneta escura. Como um ritual ele a olhava e voltava a baixar a vista e riscar o papel que empunhava. Ela preferiu fingir que dormia

O jeito que olhava pra ela transmitia nela um ar de contentamento e sabedoria. Seus olhos castanhos a fitavam furtivamente e os dentes amarelados do rapaz desenhavam um belo sorriso que incitava nela uma alegria boba.

Ainda forjando sono, ela o viu levantar e botar uma das mãos no bolso de sua jaqueta jeans surrada. De lá tirou ele um maço de cigarros mentolados. Não sabia que ele fumava.

Pra evitar que a fumaça incendiasse o quarto foi até a janela que deixaram aberta para que a noite acompanhasse o amor vivido naquele quarto. Preocupou-se ele também que o cheiro do tabaco poderia acordá-la de um possível sonho bom.

Da cama Marcella conseguiu escutá-lo num breve sussurrar: “ah, se eu soubesse que amar era tão bom!”. A frase soou a ela como uma confirmação que ele nutria. Ela sorriu. Pedro se virou, a viu acordada.

– Acordou “Rainha”? Questionou-a.

"Ela adorava quando se referia assim, não por se sentir majestade de um país imenso e repleto de súditos, mas sim por se fazer soberana d’um reino de um homem só, o homem que a fazia se sentir a jovem adolescente sonhadora que um dia fora."

– Não sabia que fumava? Indagou a mulher.

– Não sabia que eras tão linda. Remeteu o poeta deixando-a confusa.

– Como assim? Retrucou ela.

– Uma mulher nua e cheia, recheada, de prazer é a coisa mais linda que já hei de ter visto nesta vida. E sorrindo completou – e seu deleite despeja em mim o máximo de admiração.

– De onde você tira essas idéias? Quis saber Marcella.

– Sabe que nem eu mesmo sei, às vezes me acho um pouco louco com tudo isso. Respondeu fazendo um gesto com uma das mãos a convidando pra próximo dele.

Marcella se levantou, não se preocupou em cobrir o seu corpo nu, sentiu vim da janela aberta uma brisa gostosa. Pedro Luís a acompanhava com um olhar que remetia a um adolescente admirando uma linda jovem capa de revista.

Ela passou a mão pelo cabelo, exalou o aroma que saia deles com o vento e encostou-se nas pernas magras do poeta.

– Sabe nunca achei que essa nossa cidade tão feia, seria tão linda à noite? Disse ela admirando as luzes de fora do leito de amor.

– São os nossos olhos que mostram a verdade. Respondeu Pedro.

– Não concordo – disse dando-lhe um beijo molhado – Acho que a situação e as pessoas que nos rodeiam é que desnublam nossos olhos. Completou.

– Achava que eu era o poeta aqui. Retrucou com um sorriso de canto boca e puxando-a com força pra mais perto.

Ele desceu da janela, segurou-a por trás dos cabelos, mordeu o seu pescoço, ela fechou os olhos e deixou que ele percebesse um arrepio de prazer. Ele a encostou na parede da janela, a levantou bruscamente e fez do corpo dela um instrumento de fantasia e desejo. Marcella quase desfalecera. Inclinou prudentemente seu corpo pra trás e viu mais diferente ainda a paisagem de sua cidade da janela... (...)

*TRECHO DE O NONO MANDAMENTO: OS (DES)ENCONTROS (EXTRA)CONJUGAIS