O NONO MANDAMENTO (Excerto V*)

(...) Acordou sozinha na cama, viu no canto costumeiro da parede, os sapatos ainda sem brilho de Roberto. Não sabia se queria pensar nele ou em sua filha. Tirou o travesseiro de baixo de si e o colocou sobre a cabeça como se não quisesse que os pensamentos dali saíssem. Ultimamente não tracionava pelo marido nenhuma aspiração.

Sentia pela primeira vez como era fingir, Roberto na certa deve ter pensado que a esposa, como de costume, dormira esperando por sua chegada. Mal sabia o pobre que por pouco não a achou em casa.

Decidiu se levantar lá pelas nove da manhã, desceu da cama, olhou-se no grande espelho antigo que herdara de sua avó materna e se percebeu linda. A pele tinha uma aparência ótima, olhos apesar da noite mal dormida brilhavam. Passou a mão pelo corpo, sentiu calafrios ao lembrar das mão de seu amado como um flash de memória. Olhando ainda para o espelho disse a imagem do espelho “Minha Rainha”, gargalhou sozinha. Não percebera, mas Roberto entrava silencioso no quarto e vira toda a cena. Ela se envergonhou, ele apenas sorriu e balançou a cabeça negativamente, como se dissesse “está louca a pobre coitada”.

Se não foi o que pensou ele ao menos era assim que Marcella interpretou, não só interpretou como desejou que nem de longe desconfiara de seu segredo.

– Você viu minhas meias pretas? Indagou o marido.

Com certeza se vendo tão linda, não era isso que ela queria ouvir naquele início de dia, com um sorriso irônico respondeu:

– Bom dia pra você também, como você mesmo disse as meias são suas meu bem.

– Opa! Qual o porquê de tanta raiva minha rainha? Disse o marido com uma cara descarada.

– Não se atreva a me chamar assim. Marcella misturava raiva e medo nessa fala, o pior é que ele percebera. Encostou-se na esposa, segurou-a na altura dos cotovelos e disse aos berros:

– O que há com você, hein? Fica falando sozinha como louca, se tocando, se olhando no espelho. Sabe o que “tá” faltando em você? Um couro bem dado. Ao dizer isso roberto apertou-a com força os braços, a jogou na cama e como um cão no cio subiu nela e a lambeu o rosto.

Marcella fez uma cara de enojada, ele percebera e como que possuído ergueu o braço forte e pesado. Marcella apenas apertou forte os olhos.

A cena se transformara em algo grotesco. Marcella esperava tudop seu marido, mas com certeza nunca imaginou que um dia ele a agrediria.

Ainda de olhos fechados, a vítima ouviu um grito alto dizendo “Não” e sentiu o corpo de seu algoz cair da cama. Era Lulu que ouviu a discussão e empurrou o pai antes que fizesse ele uma besteira.

– Você está louco, ou melhor vocês estão loucos? O que está acontecendo aqui? – disse ela. Olhando furiosa para o pai disse – Saia daqui, saia, vai embora. Apesar de ser um homenzarrão Roberto obedeceu a filha e saiu.

Lulu tremia quando abraçava sua mãe ainda temerosa e tremendo de igual modo. (...)

*TRECHO DE O NONO MANDAMENTO: OS (DES)ENCONTROS (EXTRA)CONJUGAIS