"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance= Capítulo 54

- O que é isso, gente? Vocês não sabem que ele é todinho meu? E se é meu, quem tem que cuidar sou eu, não acham?

Durante o dia fecharam a rua, que era de passagem intensa de carros, encheram-na de mesas emprestadas pelos vizinhos, encomendaram enormes quantidades de salgadinhos, refrigerantes, cervejas, carnes para churrasco, e muita gente comemorou a recuperação do muito estimado e alegre amigo e vizinho.

Eliane não deixou que gastassem um só tostão. Pagou tudo, mesmo tendo que ficar fingidamente brava com Romero pai, e no fim da festa, alta madrugada, levou Romero para Santos, para sua casa.

- Não fiquem tristes, vocês. Ele agora vai entrar em férias, pegar praia pra valer, tomar um cor de gente saudável, e enquanto isso vocês irão se acostumando com a idéia de ver o filho casado e morando um pouquinho longe. Enquanto a gente não se casa eu o trarei sempre aqui pra matar as saudades do papai e da mamãezinha do bebêzão...

Como uma jovem noiva qualquer, Eliane cuidou de todos os preparativos de se casamento pessoalmente. Foi com imensa satisfação que cuidou de cada pormenor, de cada detalhe, de cada etapa do vestido de noiva, dos trâmites legais, enfim, não deixou de cuidar de detalhe algum e expressava felicidade total o dia inteiro.

Romero demonstrava a cada instante merecer cada carinho que recebia, e estava gostando cada vez mais da idéia de ter aquela maravilhosa mulher com ele para sempre. Já nem podia, nem queria, imaginar sua existência sem sua fada madrinha por perto.

Eliane sonhou um dia que estava em um avião, a caminho de Nova York, e o avião começou a cair. Eliane, no sonho, sentia um frio cada vez mais intenso na barriga e gritava como louca. Acordou assustada, agarrada a Romero, e custou a dormir de novo. Considerou o sonho um aviso e prometeu a si mesma que no dia seguinte iria a um cartório fazer seu testamento. Romero não quis de maneira alguma, mas ela insistiu e quase brigou com ele.

- Meu querido, você não sabe nada de minha vida. Nem imagina o quanto eu tenho de dinheiro, de bens, de interesses diversos. Por mais rica que você pense que eu seja você estará errada. Sou muito mais rica ainda. E morrer, afinal de contas, é uma coisa que acontece a todos nós, mais cedo ou mais tarde. Faço questão absoluta de ir ainda hoje fazer meu testamento. Se Deus quiser, teremos ainda muitos anos juntos pela frente, nós dois, mas se por um acaso Ele não quiser, você, minha irmã e meu filho serão meus herdeiros.

Romero, vencido pela argumentação dela, deu de ombros e acompanhou-a.

Muito tempo depois saíram do cartório e foram almoçar em um restaurante das proximidades.

- Meu amor, confesso que foi uma surpresa imensa para mim a quantidade de bens que você possui. É muito, muito, muito, muito mais do que eu poderia imaginar. Eu sabia que você estava bem de vida, até mesmo seu modo de viver demonstra isso, mas jamais poderia imaginar que fosse tanto assim. Agora estou me sentindo constrangido, como se estivesse aplicando o golpe do baú, sei lá...Eu prefiro, e juro por Deus que prefiro, que nos casemos com separação total de bens, e que você volte atrás no testamento, meu anjo.

- Não, meu querido. Casar em total comunhão de bens é coisa que me faz bem. Por vários motivos. O primeiro é que estou lhe dando uma prova de total confiança. Meu amor por você é a coisa mais absoluta de toda minha vida. Minha única grande certeza em toda minha existência. O segundo motivo é que sei, de todo coração, que você cuidará bem de mim por toda nossa vida e em toda e qualquer circunstância. E por último, e o mais importante: eu te amo demais, de um jeito que nunca amei antes em minha vida e jamais voltarei a amar.

- Mas, meu amor, você deixou para mim no testamento o mesmo que deixou a seu filho e o dobro do que deixou à sua irmã...

- Tenho meus motivos, paixão. Meu filho, apesar de ter mudado muito, conserva uma tendência antiga para certos vícios e hábitos adquiridos na infância, talvez culpa minha e do pai dele. Minha irmã passou a ser minha amiga a partir do momento em que percebeu que eu estava ficando bem de vida. Mesmo assim ela ficará muitíssimo bem de vida se alguma coisa me acontecer. Deus que livre e guarde...E você poderá, independente disso, dar uma vida maravilhosa à sua família. Adoro aquela cambada da sua casa.

Romero sorriu com gosto pensando em seus familiares. Durante sua convalescença tivera motivos de sobra para passar a adorá-los a todos. Tanto seus pais quanto seus três irmãos, dois rapazes e uma moça, foram de uma dedicação incansável, um carinho contínuo, e uma fé em seu restabelecimento que Romero sentia-se cada vez mais privilegiado apesar da tragédia que lhe acontecera. Seus olhos encheram-se de lágrimas enquanto sorria.

Desejando intensamente que Romero tivesse uma esposa simplesmente perfeita e maravilhosa, Eliane usou um recurso que a ela parecia bastar para oferecer tal companheira a seu amado: a Eliane que se casaria com Romero seria outra Eliane. A Eliane fria, assassina, mentirosa, traficante, inescrupulosa, desonesta, amoral, traiçoeira, desumana, sem qualquer senso de solidariedade ou humanismo, morreria durante seu noivado. Até o dia do casamento no civil, e depois no religioso, a nova Eliane teria tempo de ir surgindo no mundo aos poucos. Seria uma Eliane feliz, amiga, companheira, bondosa, prestativa, calorosa, meiga, sincera, um tanto quanto devassa na cama que ninguém é de ferro, mas totalmente incapaz de qualquer atitude desonesta por mínima que fosse. Milhões e milhões de mulheres pelo mundo afora movimentavam e movimentam bilhões de dólares em cirurgias plásticas por todo o corpo. Eliane não gastaria um centavo sequer para fazer uma plástica completa, profunda, radical, em sua alma. Ela e Romero, seu primeiro e legítimo marido, jurava ela, seriam o casal mais feliz do mundo inteiro.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 12/06/2008
Código do texto: T1031155
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