BOLA DE GUDE - TECADA CERTA - Tequei! (Histórias de minha infância II)

Dona Elizabeth, mãe de quatro meninas, para suprir a ausência do seu André, que viajava para a área de garimpos, decidiu que precisava ensiná-las a arte da vida. Como as garotas eram ativas, Beth delegava tarefas para todas elas, enquanto diariamente, de segunda a sexta feira, levantava ainda de madrugada para ir lecionar na Zona Rural. A escola ficava a cerca de cinco quilômetros. Beth deixava todas as meninas prontas para irem ao colégio e pegava a sua bicicleta, seus alunos a esperavam ansiosos. Lá, a professora tornava-se uma criança, gostava de brincar com os estudantes de várias idades, mas contava o momento de retornar para sua casa, para junto das suas filhas.

Quando chegava cansada, era rodeada pelas meninas que a tratavam com todo carinho. Tomava seu banho, almoçava, descansava um pouco e... ao chamado das filhas, ia brincar da brincadeira do momento. Fazia pipas, ensinando as filhas a confeccioná-las também, fazia pernas de pau, bonecas de pano, peões, quebra-cabeças, e brincava com todas, enfim, era uma mãe/colega das meninas.

Das brincadeiras, havia uma inesquecível, o jogo de bola de gude. Beth comprava as bolas para todas as meninas, mas tinha uma filha que se destacava nos jogos, ganhava da garotada toda, era campeã em jogo de bola de gude.

Beth adorava se divertir junto às filhas, apostavam corrida, pulavam corda e amarelinha, boca de forno, passavam anel, brincavam de verdade ou conseqüência, e à noite ela contava histórias, lendas e cantava músicas folclóricas. Depois, faziam o culto doméstico, oravam e iam dormir, a casa de D. Beth era muito feliz, um lar onde sempre reinou o amor.

A menina que gostava de jogar bolas ia crescendo e continuava a brincar Aos 14 anos, sua mãe decidiu manda-la para estudar na capital, iria morar com uma tia. Ela não queria ir, mas aceitou em obediência, pegou uma lata de leite, contou suas bolas e caminhou para o campinho próximo à sua casa, chegando lá, cavou um buraco e enterrou a lata com as petecas, um dia voltaria para reavê-las. Viajou para a capital.

Na capital, outros costumes, outros momentos, só retornou à sua cidade dois anos depois, uma mocinha. Após a alegria de rever a família, correu para o local onde estavam guardadas as suas bolas de gude. Achou tudo diferente, havia casas construídas onde antes era mato, mas ficou feliz em reconhecer o local que havia guardado seus pertences. O filho da vizinha de dez anos, a acompanhou na busca do tesouro, ele, um menino mirradinho, olhos grandes, roupas rotas, estava feliz em ficar perto da sua nova amiga. Ela de posse de uma enxada, começa a cavar o buraco, de repente... Chegou até a lata. Com cuidado, a arrancou do chão e a abriu... Seu tesouro estava intacto... Os olhos do menino ficaram arregalados, nunca tinha visto tantas bolas de gude, todas multicoloridas. A garota perguntou se ele tinha algumas em casa, ele disse que só tinha duas que ganhara de outro menino, sua mãe não podia comprar as bolas.

Ela o desafiou-Vamos jogar? Eu adianto algumas petecas para você, se perder, fica tudo normal, se ganhar, eu lhe dou todas essas petecas da lata. O menino saltou feliz.

A menina preparou o terreno para a brincadeira, Pegou dentre as bolas a que era de sua preferência, aquela especial que a fizera vencedora de tantos jogos, e começaram a jogar... No final, ele ganhou o jogo e levou de brinde a lata de bolas.

A garota apertou a mão do menino e saiu dali feliz, já era uma mocinha de 16 anos, estava encerrando uma etapa, aquele menino ainda iria brincar muito...

Se o garoto ganhou o jogo porque era bom, não sei, sei apenas que essa resposta só a menina poderia dar. Mas quero que saibam que durante o tempo em que ela jogou, foi campeã, participando de vários torneios, mas contar desse último jogo... eu juro que não conto (rs...rs...rs...)

Adi
Enviado por Adi em 17/06/2008
Reeditado em 21/08/2009
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