Olhares... (Á querida "Francesa")

Impossível proteger-me de olhares que carregam o mar em si, o mesmo que atravessou até aportar na beira da areia de onde nunca saí. Veio para o meu lado, calada, colocou a mão sobre a minha, nada disse, apenas fixou seus luzeiros em mim e mesmo com todo o sol, fez refulgir o dia.

Desde então, eles nunca mais me abandonaram, trouxeram para mim luz e mar, fizeram da arrebentação um porto bizarramente seguro, tomaram areia da prai e construíram castelos indestrutíveis, riram nas órbitas de estranhos planetas, choraram chuvas de lágrimas que, como as de verão, foram rápidas como vieram.

Seguimos construindo nosso castelo: para você fiz torre para que, como uma princesa, pudesse viver mas recusou já que, em nosso castelo de liberdade, não existe lugar para torres que enclausurem princesas idealizadas mas onde habitará alguém que, rês do chão, parece à mim uma mulher, de olhar cor de amêndoas e falar carregado de um sotaque estranho e encantador.

Seguimos construindo o castelo no qual já habitamos e cujas paredes solidificam-se pelo trabalho das nossas mãos, do nosso verbo, da capacidade do silêncio prolongado, encantamento de mar de seus olhos castanhos como a voragem das ondas que me atingem.

Diante disso e por tudo, poderia eu me proteger de seu olhar?