NOVA DIDATICA

Um professor chegara à sala de aula, pela primeira vez: estreante àquela turma, àquele estabelecimento de ensino; ele mesmo é estreante. Ele brilha como novo, mas não se acha ainda polido, e vem arriscando.

As grandes boquinhas abertas o olham assim... e ele joga sua pesada mala, por sobre a mesa. Sorri para os pré-adolescentes assustados com o ginásio; os olhos sempre direcionados as grandes janelas num vago desejo de fuga, em vôo obliquo.

O professor agora olha atrás de si: Aonde foi parar o quadro negro? A pergunta é silenciosa, ela é seu cenho que se franze dentro de uma fisionomia que busca sorriso, e sai um sorriso quase ingênuo. Agora é aquela tela branca, um piloto azul ao invés de giz. Reminiscências do seu tempo. Fora há tanto tempo assim?

Ele desanuviou o ambiente com uma simples “boa tarde”, mas tirando dois dos seus livros da pasta, ele, percebeu os olhos assustados das crianças: livros de gramática! – gritavam seus olhos, como outrora gritara os próprios olhos dele, que agora vinha praticar a sentença que já lhes praticaram um dia.

Ora então olhavam para seus cadernos ainda virgens. Primeiro dia: segunda-feira, língua portuguesa. Conjugar verbos em tempos e modos diversos em tempos e modos nunca antes usado em seus próprios dias.

Por isto a comunicação era tensa, e fluiria assim se, em sua “bagagem” ele não trouxesse então livros de ficção que aguçassem, talvez um outro despertar, embora tantos livros acabassem mesmo por assustá-los ainda mais.

O novo professor sabia que a cada tempo os livros despertavam o “temor” dos alunos cada vez mais, mesmo os de ficção eram símbolos da opressão do aprendizado da língua portuguesa com todas as suas regras e formulas. Num descabido vocabulário nunca atingido a um individuo em comum com eles.

Antes de iniciar a aula, então, ele colocou a pilha de livros de ficção sobre a mesa: obras de grandes mestres contemporâneos como Dalton Trevisan e Carlos Drummond de Andrade, mesmo Monteiro Lobato para adultos. Que cada aluno escolhesse um livro se assim desejasse, e com uma ou duas semanas terminado de ler o livro que tentasse fazer sua própria historinha. Que também não se preocupassem, ele não iria corrigir os “erros” de gramática, a mistura de modos e tempos de regência.

Dentre quarenta alunos, vamos dizer que vinte e cinco arriscaram.

É claro que fluíra pela aula naquele dia a didática comum às salas de aula: era ponto obrigatório.

Mas como não iria corrigir os erros de redação? Eram os pais dos alunos perguntando, achando visivelmente ruim que fosse assim, pois acreditava que aos seus filhos deviam ser imprecadas logo as regras gramaticais, mesmo sabendo – por experiência própria – que seria impossível aprende-las assim tão a ponta da língua.

O proposto pelo professor causaria mesmo escândalo na vivencia cotidiana do aprendizado sistemático. Mas é necessário primeiro ter um contato com a língua falada e o seu confronto nela escrita assim desta mesma maneira.Pois, assim como escreverão livremente será tanto pelo prisma do que leram e do que ouviram falar cotidianamente entre os familiares e amigos. Podendo despertar curiosidades sobre a própria fala e atenção para a própria escrita, quem sabe tão logo a lapidação desta escrita, havendo necessariamente uma dicotomia entre o que parece certo ou que é certo.

A criatividade não depende da gramática. Um tema pode ser desenvolvido numa escrita informal e até mesmo ficar coerente. O que deve se aprender é que a escrita e até mesmo a fala deve ser aprimorada com a vivencia, com o discernimento em que deve ser usada adequadamente em cada ambiente como uma roupa certa a cada cerimônia.

Devemos usar a língua como instrumento de comunicação primeiramente, compreendendo as suas variabilidades tanto regionais como socioeconômicas.

A norma culta (a gramática) não chega ao alcance da grande maioria, mesmo imprecada a punho de ferro pelo sistema de ensino vigente, e acaba-se acreditando que o português é uma língua complicada, que quase nenhum brasileiro sabe falar mesmo o português. Afinal, mesmo que se leia bastante, na fala predomina a linguagem informal, a linguagem cotidiana e é a que vamos usar mesmo por toda nossa vida.

ALUNO: Rodney dos Santos Aragão.

1º período de letras/ literatura/ noite.

PROFESSOR: Eraldo Maia.