DOMINGO DE SOL

Madrugada, quase amanhecendo. O dia parecia ser como todos os outros, acordar às seis , pegar um livro para ler até dar oito horas, quando os demais também levantariam, era domingo, dia de descanso, mas na véspera, ela decidira que iria receber o sol de domingo, no pátio de sua casa.

às cinco horas da manhã, abre a porta que dá acesso ao pátio, uma corrente da ar fresco a faz arrepiar-se, coloca um roupão sobre seu pijama e sai...Está escuro, vai para o jardim de inverno, de onde tem uma visão privilegiada do céu, as estrelas brilham, piscam para ela que se sente a dona do universo, deita no chão e fica a contemplar o firmamento, silêncio total...resolve fechar os olhos para relembrar outros momentos, outra espera...

São muitas lembranças... sorri de situações divertidas que teimam em vir à mente, relaxa... está pronta para o grande momento, a chegada do sol.

E ele surge de mansinho, quase tímido, como a pedir licença por estar mandando embora a noite, ela não quer perder um só minuto, abre os braços e dá uma abraço imaginário, como faz sempre ao ver o por- do- sol, adora observar o momento em que ele troca de posto com a lua, uma emoção toma conta de todo o seu ser, como se fizesse parte da natureza e estivesse em completa harmonia com o cosmo (creio que a ascendência indígena tenha uma forte influência nisso).

À medida que o dia clareia ela acaba sendo reportada para um outro momento... começa a pontuar situações parecidas, sua história com o seu amado.

Ela vivera até então em dias escuros, tateava em busca de uma porta que daria acesso a um outro mundo, nunca deixara de procurar a saida embora todos teimassem em dizer que a vida era assim mesmo, cotidiano, rotina, mesmice. Diziam ainda que essas emoções que ela deseja sentir eram coisas de adolescente, que a realidade era ir levando (a vida)???.

Viver em letargia jamais!!! Ela tinha uma alegria genuína, um prazer nas coisas simples, mas a vontade de encontrar o seu sol nunca fora descartada...

Não era deprimida, não tinha traumas de infância, era uma servidora pública que fazia jus à esse nome, boa mãe, amiga, companheira, mas...faltava-lhe algo... o amor que sonhara encontrar um dia...

Enquanto ele ( o amado) estava se preparando para o grande encontro ( sem mesmo saber), ela escrevia poesias, sonhava...e através do lirismo, imaginava momentos além do que já vivera...

Um belo dia de dezembro, eis que em meio às poesias ele surge, saudando-a em entrelinhas, dizendo que os seus dias de escuro tinham chegado ao fim, que para ele ocorrera o grande momento do encontro, que a sua busca terminara na hora que a encontrara...

Ele surgiu de mansinho, como o sol de domingo,mas logo atingiu o centro do seu céu, brilhando sempre e fazendo a resplandecer junto a si.

Ela não teve dúvidas de que os seus dias agora seriam brilhantes, derramara toda a sua claridade sobre o seu corpo, seus raios a atingiram em toda a sua extensão. Como querer voltar às noites de escuridão depois de ter provado a luz desse homem?

Então passou a sorrir do comparativo, seu homem & o sol, ambos chegaram para clarear seus dias...

Olhando agora o dia claro...Não sobrou nenhum resquício da noite escura, as pessoas começaram a transitar pela rua, os pássaros cantando como a saudar a alvorada, e, lá longe, ouve o badalo do sino convidando os fiés para irem à missa.

Ela levanta, faz uma prece em agradecimento aos "seus sóis", e entra, vai tomar um banho revigorante e preparar um café bem gostoso.

É domingo, e o dia promete continuar belo, mas, mesmo que o tempo mude e resolva chover...não se sentirá temerosa, também gosta de chuva, e, com o seu amado junto, (mesmo distante),faça o tempo que fizer, o sol brilhará em seu coração.

"Mas é claro que o sol

Vai voltar amanhã

Mais uma vez, eu sei

Escuridão já vi pior

De endoidecer gente sã

Espera que o sol já vem..." - Renato Russo

Adi
Enviado por Adi em 22/06/2008
Reeditado em 22/06/2008
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