O "MARULHAR" DO MEU AMADO

Ela já estava saindo do trabalho, fechara as portas, desligara as luzes quando o telefone tocou. O coração disparou, sabia que era o seu amado que ligava, voltou a sentar-se diante do telefone e atendeu: Oi, amado! E realmente era ele que estava do outro lado, não só da linha, mas no extremo do país, ela no norte e ele no sudeste, dirigindo o seu carro a 100 km por hora pela Avenida Brasil. Ele gritou o seu nome de forma apaixonada, como fazia todos os dias, ela sorriu, como sempre quando o ouvia chama-la. Ele... Disse que estava rumando para a Praia do Leme, pediu que ela não desligasse o telefone, que queria ouvir a sua voz cristalina, sentir o seu sorriso, escuta-la dizer que o amava tantas vezes possíveis. E ela disse. Diga-se de passagem, essa era a décima ligação que ele fazia naquele dia (rs..rs...rs...). Continuaram a conversar enquanto ele estacionava o carro à beira da praia. Depois, correu até o mar, estava próximo às rochas, no início da Pedra do Leme, onde a água batia com força contra as pedras. Colocou o aparelho em direção às ondas... Ela do outro lado, com o coração acelerado, ficou ouvindo o marulhar....chuaaaa, chuaaaa,silêncio!!! Chuaaaa, chuaaaa, silêncio!!! Sentiu a emoção mesmo à distância, fechou os olhos e também pôde aspirar o cheiro do mar...e do seu amor. Era uma mistura de Óleo Aromático com maresia...

Ele volta a falar, disse que está olhando as gaivotas sobrevoarem a sua cabeça, elas planam e trinam, num balé cadenciado, vez por outra, dão vôo rasante. Seus olhos enchem-se de lágrimas, queria que seu amor estivesse vendo esse final de tarde. Decide andar na areia, e continua a falar da sensação do farfalhar nos seus pés... chepp...chepp... Desenha um coração meio torto, como todos os corações e coloca ao centro o nome dos dois, continua a falar do prazer que tudo isso lhe dá.

Depois, sobe até a base da “Grande Pedra”, vários pescadores lançam as suas redes e linhas ao mar, ele então relembra os dias que ambos ficaram assistindo a pescaria, saboreando um peixe na barraca e tomando água de coco. Diz para a sua amada que está passando a mão em um coração desenhado na pedra, e, sem se conter, grita o seu nome em alta voz, sem se preocupar se alguém vai ouvir. Fala que a rocha está molhada e não chove, ela chora de saudade assim como ele também.

Detalha para a sua mulher sobre cada movimento seu, canta uma música atropelada, sua voz está entrecortada e pergunta: - Quando você vem embora de vez, amor? – Ela responde chorando também: - Logo mô, muito mais cedo do que você imagina. Não dá mais para ficar longe de você, prepare a casa, estou chegando. Deixe o portão aberto, até lá, tenho você guardado dentro de mim, alojado no coração e na minha mente, nem mesmo a distância nos impedirá de viver todos os momentos, estou aí do seu lado, pegue a minha mão e leve-me para qualquer parte.

Depois, ela disse que precisava ir embora, estava escuro, falou que o amava muito, e que no outro dia conversariam novamente, mandou beijos e desligaram.

Ele ainda ficou mais um pouco na praia, as lágrimas caiam do rosto. Sentia que a saudade doía demais, porém, o amor por ela dava forças para continuar. Pensou: Logo mais será primavera, e junto com as flores, a amada chegará , e então, o futuro estará selado, ambos de braços dados andarão juntos, sentarão na areia para ouvir o marulhar da água, ao som de uma música de amor cantada por ele.