A estrela
Naquela noite foi dormir decidida e estava completamente eufórica enquanto fechava os olhos esperando o sono chegar. Deitada, continuava pensando em todas as coisas que veria nos próximos dias e preocupava-se com a reação dos pais para com a sua decisão, mas sentia-se certa de que tudo estaria bem no final. Apagou a luz do abajur e encolheu-se debaixo da coberta ao tempo em que seu pai abria a porta do quarto visualizando a filha em teórico sono profundo.
Suspirou calmamente levantando a coberta, olhou a porta já fechada e a luz do corredor sendo apagada e sentiu um alívio ao perceber que os pais já deveriam estar deitados.
Os pés encostaram o chão gelado e a mala foi arrastada do escuro que era debaixo da cama. A poeira fez o nariz coçar e ela espirrou baixinho enquanto abria e jogava algumas coisas dentro. Na face aquele sorriso maroto estampava e no mesmo instante já fechava a mala quase cheia.
Correu pelo quarto e abriu a janela sentindo o vento frio da noite balançar os cabelos dourados.
- Estou pronta!
Começou a puxar a mala pesada com dificuldade e parou na frente da janela olhando a rua silenciosa e vazia.
Observou a estrela mais brilhante e sentia seus olhos cintilantes faiscando de alegria.
- Pode vir me pegar estrelinha!
Fechou o riso percebendo o “nenhum movimento” e tentando mais uma vez subiu no alto da janela e segurando a mala com muito custo novamente observou o brilho do alto e disse:
- Ta na hora estrelinha! Vamos, venha me pegar!!!
O desequilíbrio foi instantâneo e o coração da menina pulsou o medo que não pulsara até então, mas no mesmo momento sua mente dizia-lhe que era a estrelinha vindo lhe buscar.
- Querida! – o pai dela a agarrou pela cintura enquanto via a mala escorregar pelo telhado e espatifar no chão.
- Papai! Eu tava indo com a estrelinha!!! – dizia a menina apontando para o céu. – estava indo lá pegar o remedinho da mamãe!
As lágrimas do pai caiam devagar enquanto se lembrava do dia que contou à filha que a mamãe estava doente e iria morar naquela estrela, porque só lá tinha o remédio que ela tanto precisava.
Apertava a filha nos braços enquanto não continha aquela dor crescente o alivio por ter salvo a razão da sua vida. A dor era cada vez mais intensa ao olhar o anjo mais perfeito na sua frente precisando saber de coisas que não sabia como contar.
- Vamos papai? Acho que ainda dá tempo!
- Vamos querida! Vamos pra cama.
Deitou-se na cama da filha, aninhou-a em seus braços e adormeceu contendo aquela sensação intensa e através da janela aberta observava a estrela brilhar imponente no céu.
- Papai...
- Diga querida!
- Eu te amo!
- Também meu anjo! Papai te ama muito.
- Mamãe já foi pra estrelinha?
- Já querida... Mamãe acabou de ir pra estrelinha... – as lágrimas desciam correndo a face pálida e o abraço apertava enquanto a estrela gritava do céu o amor mais puro e intenso já visto no mundo.