Sólidão - Solidez - Normanda - 30 de janeiro de 2006 (Lia Lúcia de Sá Leitão)

Mais uma vez, ela inclinou-se e apoiou os braços no parapeito da varanda deixando a cabeça largada numa expressão de despezo sob o ombro.

Olhava absorta o trabalho das rendeiras do mar.

O pensamento flutuava sob as nuvens, um ar conhecido e um mar muitas vezes navegado.

Que dilema era aquele? Qual a razão de sofrer um sentimento sem dor, sem a cor verde esmeralda dos olhos do amado.

Quanta nostalgia naquele rasgo de Lua que inssistia em se fazer presente com os últimos raios de sol e quanta persistência em não aceitar o que era óbvio.

A solidão calcifica a alma, deixa encimentado os olhos baços pelas lágrimas sem razão de tê-las, sentimentos que nada tem haver com os desejos, a não ser, a solidez da situação de trilho paralelo parece um só com a distância mas a cada passo sempre estão paralelos.

A alma ferve em prazeres inexplicáveis, homens fantasmas dançam pelas paredes do castelo e executam rituais de amor sem dor.

O castelo imaginario de uma Rapunzel sem tranças invadida de músicas jamais tocadas, de poemas nunca escritos por autores consagrados.

Desconhecido o toque daquela mão que subia entre o pano azul do vestido e a carne branca, quente, sedenta por um sim.

Amoral, atemporal sonho de quem se entrega ao outro sem saber o nome, sem pedir exame de sangue, o suicídio daquele que apenas quer derrubar a solidez do enlace do que já não é.

pensar em cores alivia os devaneios de mulher carente.

O imaginado homem que rasga-lhe o tecido azul, arranca-lhe as peças íntimas e a toma como quem num só beijo suga-lhe a razão, deita o corpo que queima, que mexe, que busca, que escorrega entre as mãos que busca, equilibra-se e invade. Os sussuros e beijos na nuca, na orelha, pelo pescoço, a pele que arrepia e cada vez mais nítidos o segredo se revela domina-me!

Alguém toca a campainha, o sonhos desperto. As luzes do apartamento apagadas, quanto tempo estivera naquela posição?

Arruma-se, dá um leve toque nos cabelos atacando a fivela nos fios despenteados pela brisa direta do mar.

acende a primeira luminária, a da sala, ainda trêmula entre a realidade adentrando o sonho e a impotência de não poder dizer basta!

Abre a porta, olha o companheiro com olhar de piedade, dá um beijo na face, deixa que ele entre com o velho sorriso inocente dos vinte anos.

Um boa noite amor seu dia foi bom, desses sem muita convicção.

Ele repetia mesma pergunta de todas as noites em vinte anos, totalizando 7.300 vezes. (está bem e sem dor de cabeça?)

Tudo muito comum, ele convida e ela aceita.

Meia hora depois os dois saem calados do apartamento, descem o elevador monossilábicos, adentram na garagem e caminham lado a lado e assentam-se no carro com destino ao costumeiro restaurante, frequentado desde noivos, afinal, ela, a sua única mulher não desprezava um filé à Parmeggiana.