TRÊS SEGUNDOS - Normanda - 30 de janeiro de 2006 (Lia Lúcia de Sá Leitão)

Os sonhos são azuis como o despreocupado vôo das borboletas que brincam no campo de flor em flor.

Os sonhos da mulher azul tornam-se poderosos nas suas repetições, concretizamdo-se pela insistência da perfeição, a reprodução das cenas agradáveis.

Uma brisa que delineia o bailar do capim silvestre em seu verde urtiga sem as bordadeiras do mar mas com a sedosa mão da natureza.

Em todo sonho de borboletas mulher apaixonadas pelas mais modestas flores amarelas sem odores inebriantes das rosas está o limiar do enlace para o sim ao amor mesmo que o preço seja-lhe um peso a ser pago pela vida consumindo pela erosão a liberdade da reprodução da terra.

Existem nesse espaço de três segundos para a perfeição da tela do artista que cria o rio em seu bailado entre as pedras e a correnteza mais profunda.

Os charcos onde os sapos formam um coral dignos das grandes salas de ópera, vozes se misturam, finas, encorpadas, graves, medrosas, chorosas, em seus tons de beleza tosca de tuba, flautins oboés.

Os sonhos azuis carregam em seu bojo o tempo contido de paixão, de desejo silenciado de pássaros mudos, de aranhas tecendo teias que nenhuma mão arquiteta tamanha perfeição; a cilada está armada, ela, a mosca voa para a morte.

Mas a morte no sonho azul pode ser descartada, não há morte quando o sol brilha em três segundos de êxtase.

A alma azul da mulher abraça o chorão enorme à beira da nascente, aquelas lágrimas, águas que jamais retornarão ao regato. Silêncio de milênios trazendo fantasmas melancólicos que arrastam-se com os pés descalços e mãos vazias, o que oferecer? O que levar? O que fazer?

Assombros de uma vida que não registra maldades, que não resgistra amores, que não resgistra as causas nem conseqüências de vida ou da construção da teia em vida.

Paixões flutuam com seus pés brancos sob as copas das árvores e os anjos ainda olham o véu da noite deitar sob o horizonte, cantam canções de ninar para apressar o sono que amortece as dores traduz no sentido anti horário a lembrança do dia em festa, o vestido novo, o sapato apertando os pés, os sorrisos não tão verdadeiros e uma câmera de Tv filmando cada convidado, cada dor, as senhoras matronas investidas de propriedades e saber sobre verdades do mundo que enternece com o vestido azul, um mundo azul. As sibilas decodificavam os assovios das cobras, o uivo dos lobos, percebe a hora em que aquela borboleta que se escondera entre as pétalas amarela descansava seu dia em três segundos de paz longe da mão do caçador.