Um caso estranho

Uma história estranha, era a dela.

Uma vida incomum, era o que ela vivia.

Ele, um homem sem deixar dúvida: de fino trato, educado, com a palavra certa na hora certa. Amável, disponível, isento de qualquer suposto defeito. Como um ator irrepreensível, no palco da vida era aplaudido por todos. Só dizia coisas sensatas. E verdadeiras!

...tudo fora arrasado. Não sobrara caco sobre caco. Destruíra tudo. Num gesto de total dislexia emocional, como uma criança mimada que não vê seu desejo satisfeito, não pensou mais (aliás, 'alguém' sabia que, na intimidade, "pensar", para ele, era o menos comum no seu dia-a-dia) e num lance de total descontrole arremessou contra tudo, contra todos. Ela sobrara por pura bondade do destino.

- O que houve ? - perguntou a doméstica ao chegar de manhã.

- Qualquer ato intempestivo num momento de raiva - foi a resposta que ouviu.

Tudo seguiu como antes. "Aparência de normalidade", como de costume.

- É urgente! É urgente! - berrava a empregada grudada ao telefone. Não sei o que houve, mas outro dia já tinha sido assim também e me disseram que não era nada. Tá tudo quebrado. Ela não respira. Tá caída. No chão. Tem muito sangue. Tem uma toalha enrolada na cabeça dela.

- Só há um suspeito - disse o policial, depois de muito examinar. Vamos pegá-lo.

O homem educado, com ar angelical, quase de um bom menino, passeava sossegadamente em seu carro pelas ruas da cidade.

lilu
Enviado por lilu em 10/07/2008
Reeditado em 06/03/2010
Código do texto: T1073251