CAMPINAS SOB TREVAS

O Mercadão, lugar movimentado durante o dia, a partir das vinte e duas horas estava ermo. Nos terminais de ônibus do entorno, algumas pessoas ansiosas aguardavam seus lotações.

A região é sinistra e, embora central, pouco policiada. E, nesse dia, uma quarta-feira chuvosa e fria, o ambiente estava como que propenso a acontecimentos aterradores.

Encostado a uma bilheteria fechada aquele vulto passaria despercebido, não fosse a sua atitude suspeita – o boné caia-lhe sobre os olhos, sombreando-os. A figura observava o vai-e-vem das pessoas à procura de suas respectivas conduções.

As horas foram passando, e o elemento fumava cigarro após cigarro, na tocaia, sem aparentar impaciência. Sabia esperar. De vez em quando, olhando disfarçadamente de um lado para o outro, apalpava o bolso largo da jaqueta de napa. Antes de retornar ao seu estado de origem, compraria uma de couro...

Uma viatura desceu lentamente a rua. Indiferentes, os policiais conversavam entre si, dentro do veículo que estava com as janelas fechadas e embaçadas. Estavam só fazendo “presença” na área – só isso, nada mais.

À sombra da cabine da bilheteria, o homem de boné acendeu outro cigarro, enquanto, com os olhos, perscrutava o interior do carro da polícia. Nada conseguiu distinguir, mas isso não o preocupou – nunca temera polícia alguma, nem mesmo a da sua terra que tem fama de durona. Volvendo o olhar ao pátio de ônibus, ele descobriu quem procurava. Apagou a guimba com os pés e, correndo, dirigiu-se à plataforma de embarque. Com as mãos nos bolsos como a se proteger do frio, entrou na fila.

Passando a catraca, ele viu o seu alvo bem à sua frente, num dos primeiros bancos, logo atrás do motorista. Nesse instante o coletivo saiu, tomando a direção do bairro de destino. Seria o momento da ação? Não, não era. Esperaria. Muita gente. Testemunhas, nem pensar...

Num fim de mundo qualquer, um bronco coronel se preparava para dormir em paz, pois sabia que seu capanga daria conta do recado.