Tacuba

Era um homem alto, franzino e de rosto fino, o sofrimento e a desilusão transpiravam de seus poros e seu ar abatido roubava todo o oxigênio da sala. E lá estava ele, não que tivesse algum motivo para isso. Simplesmente estava... A camisa branca manchada de sangue, ou manchada de branco? O revólver engatilhado na mão esquerda, simplesmente estava, simplesmente era... À sua frente um, dois, três mil fios de seda, fios que deveriam estar mais acima do que estavam, mas não estavam, simplesmente estavam onde não deveriam,simplesmente eram.

O amontoado de fios sorriu e apontou para a mancha branca na camisa manchada de branco... ou de vermelho... o que quer que fosse, era uma camisa, simplesmente era. O sorriso era contagiante para os que não se contentavam com nada menos que um sorriso e as palavras acompanhadas do mesmo eram as mais reconfortantes que os desconfortáveis poderiam um dia ouvir...

- Acabou a hora... Você foi o que foi, simplesmente foi e nunca mais será. Sua vida não será a de ontem, não será a de amanhã,simplesmente será. Esqueça as mágoas, os sofrimentos...Essas manchas lhe compraram a felicidade eterna, a vida perfeita! A vida que simplesmente é, sem perturbações, sem mágoas, sem sofrimento, sem nada... A vida que simplesmente é sem nunca ter sido e que nunca será.

Uma vida sem sofrimento sem mágoas, uma vida que simplesmente é sem nunca ter sido e que nunca será, uma vida que simplesmente é sem nunca ter sido, uma vida que simplesmente é...uma vida.

Ele se virou apontou seu revólver para o amontoado de fios que voltava a se costurar novamente, pensou por 1, 2, 3 segundos, um para cada mil fios... Voltou para si mesmo o revólver que simplesmente era, que simplesmente é sem nunca ter sido e que nunca seria.

- Enfim a vida perfeita...

E então atirou...

Gabriel Dudziak
Enviado por Gabriel Dudziak em 10/02/2006
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