conto erótico 333

Minha bisavó contou-me o segredo da sua vida feliz, com uma facilidade toda dela.

Como já sabes como se fazem bebés, vou directa ao essencial. O teu bisavô ensinou-me a Confissão e essa foi a nossa prática diária durante 70 anos, até ele aos 90 se deitar com uma impressão no peito e estar frio no dia seguinte quando acordei. Morreu a dormir, nem sentiu necessidade de se despedir, estava ao meu lado.

Acordei e ajoelhei-me, persignei-me, benzi-me, sem uma palavra fui lavar a cara. Já tive alguma dificuldade em despi-lo, mas ainda o consegui mover sozinha. Retirei cobertor e lençol de cima, deixei-o ficar completamente nu por momentos. Beijei-o intimamente... Comecei a vestir-lhe "o facto dos funerais", como ele lhe chamava e bastantes vezes o usámos nos últimos anos.

Quando estiquei o lençol arranjando melhor a cama, fui chamar a tua avó. Encontrou o pai todo composto, de sapato a brilhar e chapéu sobre a cara, com os braços muito direitos ao longo do corpo. Tirou-lhe o chapéu, ralhou-me com gentileza por me ter estado a cansar. Mandou-me ir tomar banho e vestir, disse ir falar com o padre. Aproveitei e ajoelhei pela última vez junto dele, antes de fazer a vontade à minha filha.

Passaram três anos e vou-te contar do que me lembrei quando ajoelhei pela última vez com aquela compostura espiritual. Falei com o meu marido, contei-lhe a história que te vou contar.

Disse-lhe como sempre adorei ajoelhar-me entre as suas pernas a qualquer hora do dia, como nunca me falhou quando lhe pedia Confissão. Lembro com imensa nitidez, como me parecia estar a falar em voz alta, com a intensidade com que sentia os meus pensamentos em palavras quentes. Contei-lhe...

como me fazia feliz a felicidade com que desapertava a braguilha, mesmo quando me deixava tempo e carinhos para o acarinhar.

Sempre me confessou. Dias houve em que sentíamos imensa necessidade de falar, quase sempre eu. Às vezes deitávamo-nos e eu continuava a falar, nunca me chamou tagarela nessas alturas. Apesar do fazer com frequência durante o dia; sim, um dia adormeceu comigo a falar. Nunca me chamou tagarela em confissão, todos os dias me chamava. Se algum segredo houve para a nossa felicidade, aí o tens!

Confissão/ seria o título mais adequado mas, 3x3 noves fora zero, no inicio da semana, na segunda feira, publiquei o texto 333 e quis usar este título e tê-lo ia usado. Como tantas vezes, não tive paciência de passar o texto, ficou no caderno.

Eu tinha nove anos quando a minha bisavó morreu, ela tinha 99. Um conto é isto e pode ser tudo, acabará sempre no fim mesmo não o tendo. Isto não é o fim do conto, hoje lembrei-me... quis ser "tagarela". Acrescento:

Digo(-te), beija-me...

Na cabeça da cabeça com que também gosto de pensar em ti! Gostando da mergulhar no Céu, encontrá-lo dentro de ti em sensualidade, erotismo e todas as variantes com que se declina/declama (de 'cama' até ficar de 'maca'...rs; lagarto, lagarto!...) Amor!! Até ao pasmo, ultrapassando espasmos e caindo para o lado, nus nos braços um do outro; na posse duma pose que é dose de alquímica química, onde o corpo se transforma em espírito e derrama a compaixão com paixão, sem pena... com adjectivo amor, onde a substância do substantivo é sublime presença: alma da 'alma' [toda a palavra-matéria-letra(s)], 'mala' do ser, 'lama' do barro onde evoluímos desde o primordial berro da criança que sai do esforço de nascer e respira... a violência de acordar vivo/viva e descobrir como precisamos das palavras, este corpo onde perpetuamos instantes únicos de descoberta e partilha. Em parte somos sempre ilha, mas como é bom ser mar de ti: (te) amar!

Beija-me que eu dou-me a beijar-te!... toda fada!!... toda!!!

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 11/02/2006
Reeditado em 13/04/2006
Código do texto: T110459