Pois é,

Eu era hipócrita. Esnobava, me pintava de garota esperta, que não estava nem ligando pra nada, fugia de todo e qualquer laço, beijava esse e aquele sem a menor culpa e escondia muito bem qualquer esboço de sentimento. E estava tudo bem. Ele aparecia, ele me procurava, ele me ligava, ele me amava e me queria mais que tudo. Eu pisava sem dó no sorriso dele, mostrava que era muito pra ele, provocava ciúme, machucava mesmo, só pra sentir até nos meus ossos o quanto ele me queria. E ele aparecia, me procurava, me ligava, me amava e me queria mais que tudo. Eu sumia, saia com outros sem nenhum interesse, debaixo do nariz dele, por pura maldade, pra defender a tese de que eu era inegavelmente capaz de viver sem ele. Mas ele continuava aparecendo, continuava me procurando, continuava me ligando, continuava me amando e me querendo. Mais que tudo. Então um belo dia eu fiz aquela pergunta idiota “por que não?” E decidi que tinha chegado a hora de sair da defensiva, ser sincera. Mostrei meus sentimentos puros e claros, dei a cara a tapa, arrisquei. E ele? Sumiu. Assim como as ligações dele de madrugada me chamando de amor, sumiu. Sumiu junto com o sorriso preguiçoso com cara de “eu sei” dele que me enchia de alegria. E eu que fazia questão de me manter longe dele, agora daria tudo pra ter ele aqui dizendo alguma besteira daquelas que ele dizia sempre e me abraçando daquele jeito torto que só ele sabe. Queria tanto aquela imaturidade aqui pra me livrar desse mundo onde todo mundo quer saber de tudo. Mas agora já foi, eu já me entreguei. Esse é o grande problema de ser sincero, a gente tem que aceitar que nem todo mundo também vai ser sincero. Pois é, tá parecendo que mais uma vez a história vai se repetir: ele vai ser como todos os outros, vai dar ouvidos pra essa gente idiota que vive dizendo que o mundo pra mim é brincadeira e vai ficar aí fingindo que não esta vendo que eu estou aqui querendo ser só sua. Vai virar o rosto e dizer pra si mesmo pra parar com essa historia de querer ser só meu e me querer só pra ele. Eu não vou chorar uma lágrima, eu não vou mover uma palha. Por que quando eu falei serio, quando deixei de brincar com ele, ele me fez de palhaça. Talvez um dia ele apareça tentando recuperar o tempo perdido, me dizendo o que está escrito na sua testa, que realmente é louco por mim. Ou talvez eu tenha conseguido estragar tudo mesmo com a minha sinceridade e ele morra aí, olhando pra minha vida de rabo de olho, na defensiva. Mas uma coisa é certa, a Tati tem razão: a vida é pilantra mesmo.

Denyse Barrêto
Enviado por Denyse Barrêto em 31/07/2008
Reeditado em 28/03/2011
Código do texto: T1107034