Resignado amor

A moça que disfarça o sorriso na mesa ao lado, sofre como rosa despida de espinhos. Os seus olhares que penetram as paredes,

socorrem os abraços perdidos da madrugada.

As mãos tremem querendo grudar o pescoço fino de seu amado, sugar o sangue e colocar no copo para beber como vinho tinto. Ele, foge como pode desviando o corpo de seus ataques, protegendo-se das unhas afiadas que cortam o ar bem a frente de seu rosto. Ele só quis navegar em àguas calmas, ter o arco-íris de alegria no branco dos olhos, ver a noite estrelada banhar a grama verde e calada dos campos.

Mas enquanto ele voava ela o aguardava ansiosa e o seu retorno seria a vingança perfeita sem dor, esperaria silenciosa como uma leoa africana em dias de caça, sorrateira, esconderia suas armas na vegetação da savana do seu lar. Ele, distraído nem percebe seus planos de fêmea ferida e dorme cansado ao seu lado, ela, o observa com olhos caídos, deslizando os dedos inquietos nos pelos de seu peito e nem as gargalhadas o fazem acordar.

Mas os dias passaram e hoje eles estão neste bar, bebendo e discutindo como loucos, justificativas, rancor e raiva, cólera e saliva, beijos e mordidas, lágrimas e coceira nos olhos, um fuma e outro bebe, um grita e outro ri, derrubam a bebida sobre a toalha quadriculada, dão risada sem parar, brincam com seus defeitos e silenciam.

Depois de todo o agito instantâneo, ela o perdoa sem exitar, abraça o colo e beija sua orelha, jurando seu amor, concordando que na vida nada pode afastar um do outro, nem a atitude desenfreada poderá romper o laço puro de cumplicidade e que toda a raiva sentida deve ser esquecida e jogada num canto da porta de entrada para que o vento possa levar toda a poeira embora.

Enquanto saiam abraçados, ele pagava a conta, ela erguia o copo para um último gole, batendo-o com força sobre a mesa.

Enquanto ele desliza a mão por suas costas ela levanta o cabelo pra que aquele chamego sincero possa subir até o pescoço e aliviar de vez toda a tensão do relacionamento.

rdeorristt
Enviado por rdeorristt em 07/08/2008
Reeditado em 07/08/2008
Código do texto: T1117339
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