...Melhor do que o silêncio só João

Hoje passei pelo ônibus como a fumaça rala. Já estou em casa, sozinho. Relembrei os casos das estudantes, das baratas, das anomalias gerais. Não consegui rir, nem chorar, nem sentir nada. Peguei meu livro de Introdução à Economia, não consegui ler. Não quis falar com ninguém, apenas quis comer Pringles. Coloquei uma música aleatória para tocar, era "Chega de saudade", executada por João Gilberto com participação extraordinária do seu violão.

"Que me dizes, João?", pensei. Me disse que era só tristeza e melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai. Tomei um suco de pêssego pra tentar melhorar o clima. Mas a verdade era que sua voz baixa e educada rebatia dentro de mim como metal surdo. Porque era a única voz que soava no inóspito apartamento iluminado. E será assim, até quando não sei. Eu e o João, e o Tom, e o Chico, o Toquinho e o Vinícius. Tem sido assim durante bastante tempo, têm sido esses os meus amigos, muitos deles finados. Entre muita gente que existe por aí que não diz nada - ou quase nada -, eles até que têm me falado muita coisa. Por exemplo que estou sozinho, e que escrevo. Ah, insensatez...

...Melhor do que o silêncio só João.