OBSERVADORES

Havia conhecido a jovem Rilva há poucos dias. Diariamente, novas e positivas descobertas ele fazia enquanto conversavam. Ela possuía o mesmo olhar de Maria das Graças, o negro cabelo de Suely, as delicadas sobrancelhas de Carmem, os gordos lábios úmidos e sensuais de Magali. Ficava pasmo. Rilva, para ele, era realmente uma mulher completa. Com três meses de namoro já não tinha mais dúvidas: estava apaixonado pela meiga jovem. Sentia-se excitado com a timidez, a insegurança e a candidez daquele olhar virginal. Parecia uma inocente cordeirinha saída às pressas da segurança de seu pequeno mundo, o convento, para deparar-se com um belicoso mundo cheio de maldades. Certamente era do tipo de mulher que ainda não havia se aproximado de alguém do sexo oposto. Rilva era a mulher perfeita para ele. Certamente seria a esposa que lhe daria vários filhos. Decidiu não postergar. Feliz, consigo mesmo, resolveu pedir a mão da moça em casamento.

— Rilva, tenho uma coisa muito importante para te falar. Já estou com trinta e dois anos e tenho que me render aos argumentos de meus pais. Está na hora de eu criar juízo e arrumar um emprego decente e casar.

— Você não tem emprego?

— Não, só faço bicos para Roberval de Lucas.

— O colunável?

— Sim este mesmo. Fomos amigos de infância, minha mãe era cozinheira na casa dele. Brincávamos muito. Aliás, crescemos juntos. Todo mundo pensa inclusive que sou irmão dele.

— Observando bem, pelas revistas que vi, há uma certa semelhança.

— Que nada, Rob é muito mais bonito.

— Sim, mas você deve ter tido muitas e muitas namoradas. O que na realidade você viu em mim?

— Tudo de bom, minha paixão. Mal comparando, mas, é incrível, você tem um corpo parecidíssimo com a da africana Beatriz, o andar solto de Mônica, o sotaque de uma carioca que nem me lembro o nome, isso sem falar da semelhança ...

— Nossa! quantas namoradas você já teve?

— Não eram bem namoradas, Roberval é muito tímido, eu sou mais desembaraçado, assim, eu conhecia as moças, levava-as para serem apresentadas ao Rob e saía de cena. Essas que eu mencionei a você são algumas das garotas especiais que eu certamente gostaria de namorar. Felizmente encontrei todas num só corpo. O teu!

— E esta Ferrari vermelha que você dirige, suas camisas de seda, suas roupas de grife?

—Tudo do Rob. Ele sabe que sou bom observador e tenho bom gosto para mulheres. E acha que se eu estiver bem “montado e produzido” as coisas ficam mais fáceis para eu arrumar as meninas para ele.

— E quanto você ganha por mês?

— Ah! mixaria. Não importa, como do bom e do melhor, freqüento os melhores restaurantes de São Paulo, a roupa usada de Rob, sempre ficam para mim. Não gasto um tostão, tudo é por conta do meu amigão. Só preciso, mesmo, é arrumar as garotinhas para ele se divertir. Mas vamos ao que interessa. Minha doce virgenzinha, que tal, quer se casar comigo?

— Nunca te contei, mas como você, sou também boa observadora. Por exemplo, quando tiras os óculos escuros, teu estrabismo, me lembra o Ruizão Vesgo, corintiano da mais alta qualidade. Teu andar de malandro me lembra muito um negão folgado que sustentei por dois meses, teu mau hálito lembrou-me muito o portuga Zé Mané, um gajo da pesada.

Na realidade contigo só me enganei com a coisa mais importante que achei que pudesse ter: uma gorda conta bancária.

Ah, e antes que esqueça: doce virgenzinha é a #&*@#... Fui!

19/7/2008

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 17/08/2008
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