Antes do silêncio

Nas paredes brancas estão dependuradas flores mortas. Morrem com graça, como o vento que sopra, translucidamente. Apenas as cortinas se agitam, dançando um baile de silêncio e passado. É clara a luz do dia, e tão macia. Abraça o domingo como um amante em paz. O rádio navega em divagações vazias e distantes daqui...

É simples, é óbvio: o tempo cochila. As samambaias crescem, sem amor nem desespero. E embora vente, não há sinal de tempestade. Tudo se demora, como se já tivesse ido. Tudo vai transitoriamente se arrastando, rastejando e se alongando. Presente, futuro e passado passando, todos condensados num único átomo violeta, que vira fumaça alta e lenta...

É vagarosa a valsa do domingo. O domingo da vida, o pôr-do-sol. O eterno domingo escorrendo pelos cantos negros do universo... E já não se ouve som algum.