Caixa das tormentas

Ah, passado que não volta mais, uma vida inteira que já se foi. Só restam lembranças guardadas por uma caixa: você viu as fotos, olha os cadernos, estão aqui também! Tudo parte de uma memória velha, enrugada, marcada pelo tempo, que guarda as lembranças. O relógio, com seus tiques e taques, conta o tempo que me resta.A caixa aberta por minhas mãos fracas, pequeninas, trouxe de volta o passado. Ah, tantos momentos tristes e alegres, que até hoje duraram. Um dia, quando eu me for... Não, não tenho mais tantos dias assim. Melhor dizer, quando eu me for, essa caixa velha, de madeira, servirá para outros guardarem segredos e lembranças, de um dia, um momento, um evento, ou de uma vida inteira.

Nada deixou de existir, meu Deus, está tudo aqui! Recortes de jornais, papéis de balas e bombons, fotos amareladas em preto-e-branco, sim, a corrente, aquela que você me deu de aniversário, lembra? Pois não esqueci-me dela, por mais que o tempo o tenha feito, ou tentado fazer.

Oh, céus, tantas coisas aconteceram! O mundo desabou, sentimentos morrem e nada restou. Sinto que tudo pesa, minha pele sensível queimar e meu coração, ah, meu coração arde, dói, pareço não ter vida, ser apenas um monte de trapo velho, jogado em um canto, como se não existisse. Diversas palavras duras foram-me ditas, pensamentos tristes carcomeram minha alma. Uma vida longa, sim, longa, mas uma mente curta, pequena, que deixa hoje minha cabeça vazia. Sabe que ainda sonho? Caminhando por estradas, sem rumo, sem graça, sim, parece delírio, não? – risos. Nem devaneio seria Estou pleno de minha consciência, mesmo fraco, velho, um caco, se não nem proclamaria tais palavras. Ora, é verdade, a mais pura das verdades. É, meu grito foi sufocado, está sufocado, aos poucos meu silêncio revela-se, tímido, corado. Claro que não posso falar! Nem gritar! É a dor de ser o que sou, de viver o que vivo. O que mais me dói? Ora, pergunta mais estapafúrdia! O que mais me dói é saber que sei como ser nada mais que um mero, um rélis ser, destruído pelo tempo, e prestes a deixar tudo para trás!

Gu Oliveira
Enviado por Gu Oliveira em 20/08/2008
Código do texto: T1137405
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