DOUTOR NOVO GADO ASSUSTADO

DOUTOR NOVO, GADO ASSUSTADO

Quimbinha era o mais feliz cidadão de Barra do Bugre, sua felicidade tinha nome: Formoso e era um touro, mas não era um touro qualquer, era o mais bonito e valente touro da região, além desses atributos ele tinha uma historia: a mãe de Formoso a vaca Viola morreu picada por um urutu dois dias depois de parir a cria, o bezerrinho que já nascera fraco foi de mal a pior, porque não havia nenhuma vaca parida para amamenta-lo e ele não

aceitava mamadeira.

Seu Florentino era o mais rico fazendeiro daquele sertão e era o dono da falecida vaca Viola e do bezerrinho órfão, mas não queria nenhum empregado da fazenda do Descampado perdendo tempo com aquele bezerro feio e birrento e deu ordem para que o bichinho fosse sacrificado; Quimbinha de chapéu de palha na mão, se chegou ao patrão e disse respeitosamente: patrão se o sinhô permiti eu cuido do bizerro despois do meu trabaio, mais num mate ele não.

Seu Florentino pensou um pouco e respondeu: vamos fazer diferente Quimbinha, já que você quer salvar o bicho leve para sua casa e cuide dele, mas vai perder seu tempo porque esse não escapa mesmo; Quimbinha agradeceu e se foi levando aquele saco de ossos nos braços, como morava sozinho ele preparou uma cama de trapos no seu quarto e colocou o bezerro ali, como a cria estava fraca demais para sugar a mamadeira, ele molhava um pano no leite e espremia na boca do bicho.

Durante o dia o bom homem trabalhava na fazenda e a noite cuidava do bezerro, os dias foram passando e aquele arremedo de boizinho foi criando forças, crescendo e ficando mais forte; para o pessoal da fazenda o bichinho estava morto, pois como ele estava confinado no quarto de Quimbinha ninguém o viu mais, ele só saia a noite acompanhando o mulato como um cachorrinho e atendia pelo nome de Formoso.

Certo dia a renascida cria não conseguiu passar pela porta da casinha, estava criado e era um lindo garrote, ai todos viram o resultado dos cuidados de Quimbinha, ele devia pensar que o lavrador era sua mãe e o acompanhava por todos os lados, ameaçando atacar quem chegasse muito perto; Seu Florentino quase se arrependeu de ter deixado o mulato levar o bovino, mas era homem de uma só palavra e agüentou o prejuízo.

Os meses se transformaram em anos e formoso era um touro forte, valente e um reprodutor famoso, vivia nos pastos e pagava pelo que comia enxertando as vacas do rebanho do fazendeiro, mas chegar perto dele só Quimbinha podia porque a amizade e companheirismo dos dois continuava e todos estavam felizes; mas chegou da cidade o doutor Mario, que era veterinário recém formado e filho do dono da Fazenda do Descampado.

Na chegada do novo veterinário foi uma festa enorme, Seu Florentino todo orgulhoso do filho doutor não economizou, foi um disparate de comida, bebida e muita musica; no dia seguinte o doutorzinho querendo mostrar serviço, mandou preparar um grande tanque com água pela metade e disse: vou acabar com os carrapatos que estão infestando o gado, vou preparar uma calda bordalêsa e completar o tanque com ela, daremos banho no rebanho e ficaremos livres dos carrapatos.

Com os pós e óleos de sua maleta de medicamentos o estreante doutor preparou a tal calda bordalêsa, encheu o tanque e mandou os empregados tocarem o gado para dentro do banho, mas formoso estava impedindo a passagem das vacas, então o doutor disse: Quimbinha toque o Formoso primeiro que o resto do rebanho acompanha, assim foi feito e formoso entrou no banho seguido de perto pela manada, entravam por um lado do tanque e saiam pelo outro.

Saiam e caiam mortos, foi um susto sem tamanho e armou-se grande correria para impedir que o gado entrasse no mortífero banho; no final do sufoco quarenta bovinos entre bois e vacas estavam mortos e Quimbinha ao ver seu amigo Formoso estirado no chão sem vida, sofreu um infarto fulminante e morreu na hora; Seu Florentino foi as contas com o filho veterinário que tentou se explicar, mas o certo era que a calda bordalêsa fora preparada erradamente e causara todo aquele estrago.

O dono da Fazenda do Descampada não perdoou ao filho incompetente e nunca mais permitiu que ele exercesse a profissão de veterinário, para completar o castigo Seu Florentino exigiu que ele trabalhasse como empregado da fazenda até completar o pagamento do prejuízo sofrido com a morte do gado, isso levou anos porque o salário era baixo como dos demais empregados, e quando alguém tentava defender o doutorzinho, ele dizia: ele ainda se dê por feliz, porque a morte de Quimbinha não tenho como cobrar.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 01/09/2008
Código do texto: T1156491
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