ZÉ GRANDÃO VERSUS ZÉ PEQUENO

ZÉ GRANDÃO VERSUS ZÉ PEQUENO

Não pensem que Zé Grandão ou Zé Pequeno são nomes de clube de futebol, porque não são; são dois homens aparentados, mas longe de serem amigos porque querer que os dois cultivem laços de amizade é querer o impossível, pois pessoas tão diferentes jamais nascerão novamente, Zé Grandão era a paz e a tranqüilidade, Zé pequeno era o nervosismo e a encrenca, tanto um falava pouco e só coisas necessárias como o outro falava por falar o que lhe desse vontade, falava sem conteúdo coisas ofensivas ao resto do mundo.

Zé Pequeno criava problemas com os amigos que perdia aos montes, com a esposa em particular e com os filhos em geral, Zé Grandão era serio e caladão, incapaz de ofender alguém; bom filho e melhor neto pois adorava sua velha avó que todos conheciam por Dinda, foi por causa dela que ele perdeu uma única vez na vida, sua reconhecida e apreciada paciência; aconteceu mesmo assim: Zé Grandão era pintor de paredes e no exercício de sua profissão, pintava de vistosa cor de rosa as paredes da casa de Sá Dag, trabalhava em silencio como era seu costume.

A casa ficava na esquina da rua e de cima da escada Grandão avistava perfeitamente a casa de sua estimada avó, a tarde avançava e ele pintava vigiando de longe a velha Dinda que assentada na soleira da porta escolhia o arroz para o jantar; tudo estava em paz, crianças brincando, pássaros cantando, Grandão trabalhando e adorando de longe sua avó, mas tudo que é perfeito dura pouco e foi o que aconteceu quando Zé Pequeno chegou e começou a discutir com a velha dinda, que tinha o tremendo azar de ser sua sogra. O homenzinho já chegou discutindo com ela, ele se esbaldava, gritava, sapateava, gesticulava enfim fazia um verdadeiro carnaval com a pobre senhora que se defendia a altura, fazendo frente ao insuportável genro, mas claro que ela estava perdendo a briga pois com a língua venenosa de Zé Pequeno ninguém podia; do alto da escada Zé Grandão olhava com toda pachorra a cena e com a maior calma desceu da escada e colocou o balde no chão.

Limpou as mãos na fralda da camisa e vagarosamente acendeu um cigarro, fumando tranqüilo se dirigiu a passos lentos até o local da discussão que a essa altura se transformara em briga feia, era desacato que não acabava mais, os vizinhos alertados pela gritaria estavam fora de suas casas se divertindo com a confusão armada pelo terrível fulano, foi ai que chegou Zé Grandão, ele não disse uma palavra apenas dobrou seu corpo de quase dois metros de altura e agarrou o pequeno Zé pela frente da camisa.

Com sua enorme mão esquerda levantou gentilmente o homenzinho, lentamente ergueu sua formidável mão direita e descarregou tremendo tapa na cara do infeliz, ainda em silencio colocou o desmaiado encrenqueiro no chão, limpou as mãos uma na outra e voltou a pintar como se nada houvesse acontecido; Vó Dinda e os vizinhos passado o susto, jogaram um balde de água fria em cima de Zé Pequeno, que acordou assustado sem saber onde estava e assim que se sentiu melhor deu o fora.

Ele correu o mais rápido que lhe permitiam suas curtas perninhas, olhando de vez em quando para trás para verificar se o grande Zé o seguia; cada vez que olhava para trás ele sufocava de raiva, pois Dinda e os vizinhos quase morriam de rir as suas custas e ele além do vexame curtia a cara inchada que doía pra valer; foi a primeira e única vez que Zé Grandão perdeu a calma, mas não foi nem a primeira e muito menos a ultima que Zé Pequeno falou demais e levou um bom tabefe de alguém.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 04/09/2008
Código do texto: T1161474
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