O LOURO E A MULATA

O LOURO E A MULATA

Aos quinze anos Balbina parecia uma moça de mais idade, era alta, de quadris largos, pernas longas e muito bonita; de seu pai português herdara os olhos claros, quase verdes e os cabelos negros e lisos, de sua mãe preta viera a pele azeitonada e perfeita, a grande boca de lábios grossos e vermelhos e os dentes brancos e lindos.

Era uma perfeita mistura de raças que encantava a todos; os rapazes da Vila das Flores caiam de amores por ela e propostas de casamento ela recebia uma após a outra, mas a linda mulata não se interessava por ninguém, se divertia com todos nas festas e bailes e ria alegremente quando o assunto era casamento, e dizia: só vou me casar com um rapaz louro e rico.

Assim estava difícil porque naquela vila não havia ninguém louro e muito menos rico, porque os mais abonados eram filhos de donos de pequenas propriedades rurais e estavam bem longe da riqueza, mas Balbina continuava firme em seus propósitos e recusava todas as propostas que recebia, preferia esperar pelo seu hipotético príncipe louro.

Ela esperava mas o tempo não, quando chegou aos vinte anos a moça estava no auge de sua beleza, seu corpo agora completo era o mais perto que se podia chegar da perfeição e a quantidade de pretendentes a marido aumentava dia a dia, porque a fama de tamanha beleza se espalhara pelas vilas vizinhas e delas também apareciam interessados, mas ela dizia não.

Fiel a seu sonho com um louro e rico personagem, ela levava sua vida muito bem pois era convidada para casamentos, batizados e qualquer outro evento que houvesse na região, comparecia a tudo na maior alegria; sempre bajulada, admirada e solicitada ela se colocava acima de todas as outras jovens, essa sua atitude vaidosa ofendia as menos belas.

Mas de repente o louro apareceu, era um engenheiro alemão contratado para instalar as maquinas da usina de força e luz do lugar; seu nome era Hans e ninguém sabia se era rico ou não, mas para Balbina era seu esperado príncipe louro e parecia que tudo ia dar certo, porque o tal doutor Hans ao conhecer a moça se encantou por ela e o namoro começou para valer, o povo de Vila das Flores esperava ansioso pelo casamento.

Um mês depois que chegou o alemão pediu a jovem em casamento e o noivado foi muito festejado, mas dois meses depois o louro e lindo engenheiro anoiteceu e não amanheceu, a moça chorou, a família se zangou e o povo armou um grande comentário; o inexorável tempo foi passando e o pior aconteceu: Balbina estava grávida.

No devido tempo nasceu um menino forte, branco e de cabelos claros e a comunidade comentou até esgotar o assunto, os ofendidos parentes da moça mandaram ela trabalhar para sustentar o filho, ela que só sabia ser bela engoliu o orgulho e passou a lavar roupas para fora, em pouco tempo sua beleza foi sumindo queimada pelo sol inclemente.

Nunca mais se ouviu falar do alemão, mas o menino cresceu e se tornou um homem de grande estatura, forte, honesto e trabalhador, que cuidou de sua mãe até o dia de sua morte; seu nome era Virgilio, ele se casou com uma moça meio índia e criou uma grande família, até os dias de hoje existem descendentes dele em Vila das Flores, altos, claros e inteligentes como seu tataravô alemão.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/09/2008
Código do texto: T1162838
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