O dia da edição de Mariana
Mariana, pensativa, senta e escuta as ordens do seu editor. Não era a primeira vez que ela verificava cada vírgula dita pelo seu chefe, tentando observar se era falado algo com duplo sentido. A verdade era clara: um misto de obsessão e de ódio por Alberto a envolvia.
Ela o queria, o desejava. Ao mesmo tempo se irritava com sua presença estúpida. Sentia-se subestimada, mas sonhava com ele. Fechou os olhos; escutava aquela voz, rouca, mansa, melancólica. Resolveu uma manobra arriscada, segurou a mão do chefe no meio das ordens, no meio do expediente e com grande chance de ser surpreendida por algum colega.
Surpreso, ele parou de falar e ficou imóvel, enquanto ela levantou-se brandamente e chegou-se ao corpo dele. O calor que fluía de um para o outro era vivo e os olhos se olhavam sôfregos, incrédulos. Ele continua parado e ela não.
O vestido era de fácil remoção. A sala estava fechada. De maneira irracional, ela o conduz, com as mãos, para a mesa, onde nenhum sentimento é exposto. O envolvimento é carnal, intenso, muito mais rápido do que calmo. Mariana vive minuciosamente cada segundo. Ele só responde aos estímulos da subordinada.
Ofegante, ela segura o rosto do chefe, na medida em que o sorriso dele começa a se abrir.
- Quais eram as ordens para o próximo número da revista, mesmo?
- O quê? Deixemos para falar nisso em outro momento...
- Você não entendeu. Estou no meu horário de trabalho e pretendo trabalhar.
- Belo trabalho. Aliás, nunca imaginaria que você 'trabalha' tão bem, menina!
- Eu fiz e faço o que tenho vontade. Que agora isso fique claro, Alberto.
- Senhor Alberto.
Ele baixa e balança a cabeça, vaidoso. Mariana pega sua lapiseira na mesa e, ligeiramente, golpeia o chefe no pescoço. Sete perfurações. Ela termina de arrumar a alça do vestido. Sai discretamente e some.
Ao abrir os olhos, ela concorda com as resoluções autoritárias de Alberto. Ele sai e a deixa sentada; agora, Mariana tinha muito a fazer. Por um instante, ela foi outra, apesar de ter sido ela própria.