As roupas que não servem mais.

E naquele momento, em que se misturavam razão e dor, embedidos por uma substãncia forte, ela abriu o velho baú.

Era sempre assim, depois do prazer, ela sentia dor.Sentia que aquele não era seu mundo, que aquela não era sua vida, e tinha sempre a mesma vontade de jogar tudo fora.

Desde nova ela tinha esse costume besta de escrever, falava de tudo, desde as brigas o irmão mais novo as paixões que lhe corroíam. Ela sempre teve muitos diários, e neles, estava descrita uma pessoa que ela nunca gostou de ser.

Não que ela acreditasse que se livrar dos vestígios materiais pudesse surtir algum efeito, mas naquele momento, essa necessidade era mais forte do que a ciência de que não se arrancam capítulos da vida.

Pensando bem, não sei se momento ela tinha ciência de alguma coisa, as coisas tinham se tornado difusas e os sentimentos se misturavam numa tentativa desesperada de esconder o que ela tinha feito antes de abrir o velho baú.Talvez se ela não tivesse se intorpecido ela nem o tivesse aberto.

Ela chorou, chorou por horas...e foi rasgando, queimando. Foi vendo aqueles sorrisos e abraços serem consumidos pelo poder transformador do fogo, se tornando cinzas com todas as páginas que suportaram sua dor, seus desatinos e suas fraquezas.

Viu queimar num misto de dor e de prazer os diários com todos os relatos anteriores a sua tentativa de suicídio e por alguns segundos viveu a maior antítese possível; não sabia se queria estar morta, ou deveria agradecer por ter sobrevivido.

Ela percebeu nas letras que queimavam que desde nova ela sempre teve um gosto pela morte como se ela fosse a melhor opção pra lavar-se dos erros que foram cometidos desde muito cedo, e muitas das vezes, mascarou esse desejo de morte em atos que a conduzem sempre a um suicídio lento; no imediato ela não obteve sucesso.

E eliminando os vestígios materiais, ela tentava se lavar, se moldar, se transfomar, fazia pequenas promessas a lua, as estrelas, a sí mesma.

Entendia, que o passado, é uma roupa velha que não serve mais.