Simplesmente o luar

Seria mais uma noite como tantas outras, um tanto quanto enfadonha. Assistir ao noticiário com suas inumeráveis notícias desagradáveis ,como se não houvesse nada de bom acontecendo nesse velho e grande mundo. Ficar impassível em frente à televisão, com o super controle nas mãos, zapeando, buscando algo de interessante para preencher o tempo. Pensei então em algo inusitado, ousado até. Usei o controle corajosamente e, subitamente, fechei os olhos, respirei fundo e apertei o botão de uma vez, desligando a televisão. Como consegui fazer aquilo não sei até agora. Confesso que senti uma forte palpitação. Sair da rotina me fez ficar trêmula, mas já tinha dado o primeiro passo, então não quis voltar atrás. Caminhei a passos rápidos, largos, quase correndo, como se alguém pudesse descobrir o que estava fazendo. Nâo sou o tipo de pessoa que arrisca, mas... Sempre há uma primeira vez. Afinal de contas não desejo passar por esta vida sem me divertir, pelo menos um pouco.

O que meus amigos diriam se me vissem naquele momento, pior ainda, o que meus inimigos poderiam fazer, espalhariam coisas horríveis a meu respeito, Minha reputação de boa menina, moça ajuizada, previsível e confiável ficaria arruinada para sempre, mas confesso que aquele pensamento, ao invés de me paralisar, só me fez ter mais vontade de agir com mais rapidez.

O quintal, com suas flores coloridas e perfumadas, de tantos e variados odores, estava com aquela claridade maravilhosa proporcionada pela lua, imensamente amarela e redonda, com uma aura impressionante. Tudo estava conspirando para que aquela minha aventura fosse perfeita. Como eu podia ter demorado tanto tempo para experimentar algo tão delicioso, quanto tempo eu perdera, mas nunca é realmente tarde para aprender a viver, sem preocupação alguma com as consequências e aquela era minha chance...Não iria deixar escorrer entre meus dedos.

Fechei meus olhos para não perder nenhuma sensação daquele ato. Abri meus braços e deixei que meu corpo fosse todo tocado, envolvido naquele toque maravilhoso. Era como se eu fizesse parte de algo maior. Consegui realmente me desligar de todas as conveniências, de todas as regras de boa conduta enraizadas em meu interior. Estava, de repente, livre de tantas correntes imaginárias que tinham me imobilizado até então.

Nesse exato instante, para que aquela imagem ficasse gravada de forma forte em minha lembrança, abri os olhos e fitei, impressionada, sua beleza, presente em tudo que me rodeava. Então, sem mais demora, sem receio que os vizinhos ouvissem e me recriminassem. soltei minha voz e, embalada pela doce brisa da noite, cantei, horas a fio, louvando a lua, a noite, a vida...