O NOIVO FUGIU?

O NOIVO FUGIU?

Delfina era uma linda morena: alta, quadris largos, pernas compridas e bem torneadas, que lhe garantiam passos firmes e elegantes; ao ser vista a distancia ela causava admiração pelo seu bamboleio inimitável, mas de perto o espetáculo era seu rosto oval, sua pele perfeita e a beleza de seus olhos verdes, seu sorriso fácil era maravilhoso, como Delfina não havia ninguém.

Ela era noiva de Godofredo e isso causava espanto a todos, porque como seu apelido Godô ele também era ridículo e feio, mas era feio demais porque era gordo e com o rosto cheio de espinhas, de pouca estatura e dentuço ele parecia um coelho obeso, era sem duvida um erro da natureza; aquele noivo não combinava de maneira alguma com a linda Delfina.

De um jeito ou de outro o estranho noivado já durava dois anos, o povo de Vargem da Freira esperava com ansiedade a festa do casamento, porque o desastroso noivo tinha duas qualidades: era rico e festeiro, com certeza a festa daquele esperado casamento seria memorável, e a expectativa era enorme.

Mas a pressa era só dos futuros convidados, porque nem a linda noiva e nem o pavoroso noivo pareciam apressados, o tempo passava e o enlace não saia, e nessa lengalenga passaram-se mais três anos, mas finalmente aconteceu: a data do casamento foi marcada, convites distribuídos e finalmente chegou o grande dia.

A igreja lindamente enfeitada com rosas, lírios e folhagens verdes, um belo tapete vermelho cobria o piso da porta de entrada principal, até chegar ao altar decorado com toalhas de linho bordado, grandes candelabros dourados com enormes velas cor de rosa; o padre com suas vestes de gala e os convidados em suas melhores roupas, já estavam a postos.

Muito antes da hora marcada estava tudo pronto e lindo, mas do noivo que sempre chega primeiro nem noticia, a noiva chegou e ficou esperando dentro do carro, mas depois de meia hora de espera Delfina perdeu a paciência e resolveu entrar, a orquestra executou a Marcha Nupcial e ela entrou pelo braço de seu pai.

Era a noiva mais linda já vista naquela cidade, ouviu-se um hóooo de espanto com tamanha beleza, mas nada do feio noivo aparecer; o tempo passava e os murmúrios sussurrados foram se elevando, de repente o Lilico Alfaiate entrou correndo e disse: gente o Godô não apareceu para pegar o terno do casamento, cadê o noivo?

Foi um susto e ninguém entendia mais nada, com uma noiva maravilhosa como aquela, quem poderia pensar que o feio Godofredo, desistisse de se casar na ultima hora, mas pelo jeito o impossível estava acontecendo e aconteceu mesmo, porque a noite chegou e nada do noivo aparecer, mas a noiva abandonada não se abalou.

Ela disse: tudo bem amigos, noivo foi e noivo virá, mas a festa está pronta e não vamos deixar estragar, vamos comer, beber e dançar, o casamento não aconteceu mas a festa vai acontecer; animados com a disposição da noiva dispensada, foram todos comemorar o não acontecido, e bebida vai e bebida vem, as pessoas se animaram e a festa ferveu.

Lá pelo meio da noite, Manfrêdo irmão do noivo e feio como ele, pediu a palavra e disse: amigos, meu irmão se acovardou e abandonou essa lindeza no altar, mas eu sou é macho e proponho que se case comigo aqui e agora, sou até mais rico que o Godô fujão; a alegre e esquecida noivinha aceitou o inusitado pedido.

Voltaram todos para a igreja, acordaram o padre e o casamento foi realizado, a festa continuou até o dia amanhecer; na tarde do dia seguinte Godô apareceu e foi na casa da ex-noiva se explicar e pedir desculpas, mas quase morreu de susto ao ser informado dos últimos acontecimentos, contou então o motivo de seu sumiço.

Ele disse que naquela manhã do casamento, ele resolveu ir até a Fazenda do Mato Dentro para ver se estava tudo em ordem, mas o cavalo montado por ele se assustou com uma cobra no meio da estrada, pulou uma cava e caiu no fundo da mesma por cima dele, não passou ninguém para socorre-lo e ele demorou a se livrar do corpo do cavalo.

Estava esclarecido o motivo do atraso do noivo azarado, mas era tarde para recuperar a noiva, o pai de Delfina tentou conforta-lo, mas estava na base do sem jeito; ele jamais perdoou aos dois traidores e o povo de Vargem da Freira dá boas gargalhadas, quando se lembra do assunto e diz: O irmão foi ao vento e perdeu o assento.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 17/09/2008
Código do texto: T1183066
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