SALOMÃO CABOCLO

SALOMÃO CABOCLO

Na Fazenda Catira duas irmãs se casaram no mesmo dia com rapazes de famílias diferentes, os dois maridos eram morenos claros e também as esposas eram morenas; engravidaram na mesma época e por coincidência as crianças nasceram na mesma noite e a parteira Andresa teve que se desdobrar para atender as duas parturientes ao mesmo tempo; nasceram duas meninas.

Ambas eram fortes, só tinha uma diferença: uma era clarinha e a outra escurinha, mais para preta que para branca, coisas assim acontecem as vezes com crianças brasileiras de pais claros, pois a maioria das famílias desse pais teve seu inicio nas senzalas, mas com gente de pouca cultura como aquela, o ocorrido não foi bem entendido e as duas mães queriam sair fora da coisa de difícil explicação.

E ai começou a encrenca, porque as mães acusavam a parteira de ter trocado as crianças ao nascerem, como a luz era de lamparina ate podia ter acontecido, mas Andreza a parteira jurava por todos os santos que estava tudo certo, que não trocara as meninas; armada a confusão nada estava certo, certo mesmo era que ninguém queria ser mãe da mulatinha e o caso foi parar na delegacia da Vila.

O delegado Zurico ouviu as confusas explicações e viu logo onde estava o transtorno, exigiu silencio, pensou um pouco e disse: olha aqui donas, eu não acredito nessa historia de troca das meninas, a crioula Andreza é parteira de confiança, mas como ninguém está contente com o que Deus lhes deu, vou resolver já esse assunto, com um grito chamou sua esposa dona Marica que estava por ali.

Apanhou uma criança em cada mão e entrego-as a esposa dizendo: leva para dentro e cria essas bichinhas Sá dona, vão dar boas ajudantes na cozinha quando crescerem e completou dizendo as estarrecidas mães: podem ir agora, onde tiraram essas deve ter mais, quem sabe as próximas saiam do gosto das moças; as duas voaram até onde estava Sá Marica, apanharam suas filhas e saíram correndo.

Seus maridos correram também para fora da delegacia, com os dedos na cava do colete Zurico ria a mais não poder do susto dado nas tolas moças e em seus não menos tolos maridos; o escrivão Isidoro que a tudo assistiu, não se conteve e disse: ora senhor delegado, o senhor me saiu o próprio Salomão, o delegado ficou na duvida se aquilo era elogio ou ofensa, mas resolveu agradecer.

Como seu escrivão era um homem sensato e não era dado a ofensas ele aceitou como elogio, mas o caso foi muito comentado e toda a comunidade queria saber porque Isidoro apelidou Zurico de Salomão, iam até ele perguntar e o coitado tinha de contar a historia do Salomão da Bíblia; o escrivão nunca mais fez citações bíblicas, não na Vila de São João, porque era uma trabalheira se explicar depois.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 19/09/2008
Código do texto: T1186662
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