O MARIDO PERDIDO

O MARIDO PERDIDO

Ele era gordinho, de pouca estatura, bochechas rosadas e era careca, seu bom humor era notório e ele se valia dele para conviver pacificamente com dona Queridinha, sua santa esposa; ela era uma pessoa extrovertida, falava pelos cotovelos e como todos que falam sem pensar, era as vezes bem inconveniente criando situações constrangedoras para o pobre do Galdino, esse era o nome do feliz marido de dona Queridinha.

O casal era feliz apesar dos destemperos lingüísticos da mulher, eles sabiam rir juntos das próprias gafes e sempre se divertiam muito, o principal fator de tanta harmonia era o grande amor que os unia; eram muito diferentes fisicamente, ao contrario do esposo ele era alta, magra, tinha os cabelos claros e os olhos escuros e vivos, era na verdade uma mulher bonita e muito simpática e apesar de falar demais, era apreciada por todos que a conheciam.

Ao contrario da esposa Galdino pensava tanto que quase não falava; moravam no interior onde todos se conheciam e quem não era parente era pelo menos compadre, e a vida corria devagar quase parando e o casal se sentia muito bem e não desejava nada diferente, jamais haviam deixado seu pé de serra porque consideravam o mundo lá fora assustador demais, e se estavam felizes assim para que mudar.

Mas ao completarem vinte e cinco anos de casados, resolveram fazer alguma coisa diferente para comemorar as Bodas de Prata, pensaram e pensaram e não resolveram nada; o filho mais velho do casal era estudante de medicina na capital do estado e sugeriu aos pais uma viagem para lá, porque nada mais diferente do que sair de sua cidadezinha, para o tumulto da cidade grande.

A sugestão foi aceita e lá foram os dois para sua segunda lua de mel; se hospedaram em um hotel no centro da cidade, e saíram logo para ver as novidades, mas era tanta coisa nova que eles se distraíram e se separaram, Galdino foi para um lado e Queridinha para o outro misturados a todo aquele povo; quando a mulher deu por falta do marido, ficou apavorada e saiu avenida afora perguntando as pessoas se haviam visto o Galdino, segurava as pessoas pelo braço e dizia: moço você viu meu marido? Ele é baixinho, careca e gordinho, é boticário lá na nossa terra; as pessoas se assustavam, se desvencilhavam dela e diziam: que mulher maluca, credo.

O tempo passava e a pobre mulher se desesperava, até que um guarda resolveu leva-la a uma delegacia de pessoas desaparecidas, onde ela foi informada que só depois de quarenta e oito horas, a pessoa seria procurada pela policia; ela começou a chorar aos gritos, havia lá um doido que resolveu fazer coro e em poucos minutos a bagunça se instalou, todos gritavam e ninguém se entendia, o delegado e os policiais presentes tentavam colocar ordem naquele caos, mas o único jeito foi retirar a chorosa dona Queridinha do recinto e dar o caso por encerrado.

Ela voltou a avenida e continuou sua ingrata tarefa de procurar o desaparecido marido; por seu lado Galdino ao dar por falta da esposa, pensou rápido e como viu uma igreja enorme logo adiante, se encaminhou para lá, assentou-se na escada e filosofou:Queridinha vive resando, não pode ver uma igreja, então para que cansar as pernas, ela vai aparecer por aqui, é só esperar; assim que saiu chorando da delegacia, a devota senhora se lembrou de Deus e logo em seguida avistou a igreja, correndo para lá ela prometendo: Senhor me ajude a achar o Galdino, e eu darei dez mil reis ao primeiro pobre que eu encontrar.

A mulher estava tão aflita que deu o dinheiro a um homem que estava assentado na escada, continuou a subir enquanto o pobre se matava de rir, porque ele era o próprio Galdino; depois de alguns minutos ele chamou por ela, levou uns bons tabefes pela brincadeira, voltaram ao hotel onde pagaram a conta, pegaram as malas e voltaram correndo para sua casa e quando alguém perguntava pelas novidades da cidade grande, a resposta era sempre assim: seu menino, a capital fica lá e a gente cá e nunca mais viajaram para lugar nenhum.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EdA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 19/09/2008
Código do texto: T1186672
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.