PORCOS FEIOS DO CAMPO LINDO

PORCOS FEIOS DO CAMPO LINDO

A Fazenda do Campo Lindo ficava a pouco mais de quinze minutos do centro de Vila de São João, era uma propriedade como outra qualquer plantando um pouco de tudo e criando um pouco de tudo e seu proprietário era o coronel Tarcilio, homem cheio de finuras e muito gentil, que estudara muitos anos na cidade grande, não se formara para nada porque a inteligência não dera para tanto.

Mas aprendeu boas maneiras e era muito apreciado; por se encontrar muito perto da Vila, a Fazenda do Campo Lindo era cercada de vizinhos próximos que apesar de apreciarem os modos cavalheirescos do coronel Tarcilio, se sentiam prejudicados por uma de suas manias; o gentil coronel tinha uma grande criação de porcos que gentilmente alimentava a custa dos vizinhos.

Todas as manhãs bem cedinho, ele gritava para o tratador dos porcos: Izé solta os porcos que os bichinhos precisam tomar ar puro e a porcada se espalhava pelas chácaras vizinhas, comendo as hortaliças e frutas e fuçando tudo que encontravam; o mais prejudicado era o José Higino pois plantava um mandiocal em suas terras, bem na beira de um córrego que servia de divisa com o coronel.

Por varias vezes José Higino pediu ao coronel Tarcilio que contivesse seus porcos no limite de suas terras, mas qual nada , o jeitoso coronel ia levando o vizinho na conversa e ficava tudo no mesmo, mas por azar do fazendeiro do Campo Lindo, o delegado Zurico era casado com uma das netas de José Higino e foi convidado por ele para morar em suas terras e o delegado aceitou o convite.

Na primeira manhã passada na nova residência, Zurico acordou com roncos de porcos e a gritaria dos filhos de José Higino que os enxotava, abriu a porta e o espetáculo era desolador: o mandiocal estava todo revirado e os porcos comiam a fartar; o delegado quis saber de quem eram aquelas feras e foi informado do que acontecia diariamente por aqueles lados, todas as manhãs.

Em um minuto Zurico saltou o córrego da divisa, se dirigiu ao Campo Lindo e pediu com boas maneiras ao coronel Tarcilio, que recolhesse seus porcos ao mangueiro para parar de prejudicar os vizinhos; como de costume o coronel prometeu tomar providencias e pediu desculpas, parecia que o assunto ficara resolvido, mas na manhã seguinte lá estavam os vorazes animais destruindo o mandiocal.

O neto delegado não disse nada, mas na terceira manhã antes do sol nascer, ele se escondeu entre as folhagens da beira do córrego, armado com uma carabina e bastante munição e esperou; o sol nasceu e em seguida o coronel Tarcilio mandou soltar os porcos como era seu costume e como era costume dos porcos investiram direto para as terras de José Higino, sem saber o que os esperava do outro lado

O primeiro que saltou o córrego da divisa, foi parado no ar por um tiro de carabina e caiu morto dentro da água e mais três que saltaram morreram do mesmo modo; ao som dos tiros e guinchos porcos, armou-se uma tremenda confusão, o coronel Tarcilio desceu correndo com seus empregados, mas parou receoso ao ver o portador da arma e mesmo a vista de seus capados mortos dentro do córrego, se calou.

O delegado Zurico se dirigiu a ele com a cara mais seria do mundo e comentou: olha coronel, que acidente mais sem graça, eu resolvi caçar preás aqui na beira da água e acabei acertando nos seus porcos; eu lhe apresento minhas desculpas, mas aproveito a ocasião para lhe avisar que vou caçar aqui todas as manhãs e será bom o senhor manter a porcada no mangueiro, para evitar novos acidentes como esse.

Terminou dizendo: Deus lhe dê um bom dia coronel, colocando a carabina no ombro, subiu marchando pelo trilho enquanto assobiava uma marcha de seus tempos na policia; o estarrecido coronel Tarcilio não disse uma palavra, quando melhorou do susto e recuperou a língua, foi para gritar aos empregados que recolhessem os porcos ao mangueiro e depressa.

José Higino, que descera correndo ao ouvir os tiros, ficou sem ter o que dizer e não disse nada, apanhou uma enxada e começou a ajeitar seu mandiocal ajudado pelos filhos; a situação era tragicômica, de um lado do córrego o coronel Tarcilio e seus empregados ajuntavam os porcos aos gritos de culê- culê, agitando cuias cheias de milho; do outro o velho Higino e seus filhos no trabalho.

Dentro do córrego os falecidos suínos totalmente ignorados; essa situação durou algum tempo até que José Higino perguntou o que o coronel pretendia fazer com os mortos e o coronel Tarcilio respondeu gentilmente que como seus porcos deram muito prejuízo ao amigo vizinho, ele gostaria que ele aceitasse a metade dos despojos, na hora José Higino retribuiu a gentileza com um jacá de mandioca, se desejaram bom apetite e assunto encerrado; nada como um neto delegado e caçador. Maria Aparecida Felicori{Vó Fia} Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 19/09/2008
Código do texto: T1186717
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